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quinta-feira, 28 de março de 2019





POESIA
Um Amor
Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão, 
puxaste-me para os teus olhos 
transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua, 
ainda apanhámos o crepúsculo. 
As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar 
diferente inundava a cidade. Sentei-me 
nos degraus do cais, em silêncio. 
Lembro-me do som dos teus passos, 
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas, 
e a tua figura luminosa atravessando a praça 
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é, 
o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali, 
continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha 
essa doente sensação que 
me deixaste como amada 
recordação.

Nuno Júdice, in "A Partilha dos Mitos"

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1 comentário:

mariferrot disse...

Nuno Júdice, Ensaísta, um Poeta que escreve com caneta laca da china e aparo com ponta de ouro !!!...Bj Conde <3