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sexta-feira, 1 de março de 2019

Camilo Pessanha, in 'Clepsidra'






Não Sei se Isto é Amor
Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar, 
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo; 
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar 
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo. 
Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito. 
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos. 
Nem depois de acordar te procurei no leito 
Como a esposa sensual do Cântico dos cânticos. 
Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo 
A tua cor sadia, o teu sorriso terno... 
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso 
Que me penetra bem, como este sol de Inverno. 
Passo contigo a tarde e sempre sem receio 
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca. 
Eu não demoro a olhar na curva do teu seio 
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca. 
Eu não sei se é amor. Será talvez começo... 
Eu não sei que mudança a minha alma pressente... 
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço, 
Que adoecia talvez de te saber doente.

Camilo Pessanha, in 'Clepsidra'
foto do poeta  

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1 comentário:

mariferrot disse...

Grande Poeta do simbolismo, morre novo devido a doença com vícios e maus hábitos. Influenciou muito directamente o disparo do modernismo nas artes e nas letras portuguesas; que o diga a Geração de Orpheu !!!... Beijo Conde <3