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sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Ruy Belo

 

Vivemos convivemos resistimos 
cruzámo-nos nas ruas sob as árvores 
fizemos porventura algum ruído 
traçámos pelo ar tímidos gestos 
e no entanto por que palavras dizer 
que nosso era um coração solitário 
silencioso profundamente silencioso 
e afinal o nosso olhar olhava 
como os olhos que olham nas florestas 
No centro da cidade tumultuosa 
no ângulo visível das múltiplas arestas 
a flor da solidão crescia dia a dia mais viçosa 
Nós tínhamos um nome para isto 
mas o tempo dos homens impiedoso 
matou-nos quem morria até aqui 
E neste coração ambicioso 
sozinho como um homem morre cristo 
Que nome dar agora ao vazio 
que mana irresistível como um rio? 
Ele nasce engrossa e vai desaguar 
e entre tantos gestos é um mar 
Vivemos convivemos resistimos 
sem bem saber que em tudo um pouco nós morremos


Ruy Belo









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