DE EUGENIO DE ANDRADE
ELEGIA
Às vezes era bom que tu viesses.
Em ti havia a harmonia
dos frutos e dos animais.
Maio trouxe cravos como outrora,
cravos morenos como tu dizias,
mas cada hora
passa e não se demora
na tristeza das nossas alegrias.
Ainda sabemos cantar,
só a nossa voz é que mudou:
somos agora mais lentos,
mais amargos,
um novo gesto é igual ao que passou.
Um verso já não é a maravilha,
um corpo já não é a plenitude,
tu quebraste o ritmo, o ardor,
ao partires um a um,
os ramos da tua juventude.
Não estamos sós:
Setembro traz ainda
um fruto em cada mão.
Mas os homens, as aves e os ventos
já não bebem em ti a direcção.
1 comentário:
Poesia, a alma do Poeta e em Eugénio de Andrade a sua solidão é transparente !!!...
Beijo Conde
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