Seguidores

sábado, 19 de março de 2022

Paul Éluard

 POEMA

Revelação
Aliviei-te de angústias e inquietações, de tudo
O que nos pode atormentar através de tudo através de nada
Teria eu podido não te amar a ti
Tu nem que fosse só pela tua gentileza
Como um pêssego após outro pêssego
A desfazer-se na boca como um verão
Toda a angústia todo o tormento
De continuar vivendo a ser ausente
E a escrever este poema
No lugar do poema vivo
Que não escreverei
Como não estás aqui comigo
Os mais tênues esboços do fogo
Preparam o derradeiro incêndio
As mais pequenas migalhas de pão
Bastam aos moribundos
Eu conheci a virtude viva
Eu conheci o bem tornado corpo
Eu recuso a tua morte mas aceito a minha
Teria desejado fazer um jardim
Da sombra que de ti se estende sobre mim
Repousado o arco fazemos parte da mesma noite
E eu quero continuar a imobilidade que agora é tua
O discurso inexistente
Que começando em ti acabará em mim
Comigo voluntário obstinado em revolta
Apaixonada como tu pela terra-maravilha.
Paul Éluard



1 comentário:

mariferrot disse...

Angustias e inquietações sofrimentos diários de permanência constante, grandes e pequenos deixam a alma ver por si mesma o que não é natural mas carece de resignação !!!...

Beijo Conde