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quarta-feira, 23 de março de 2022

Eugénio de Andrade, "As Mãos e Os Frutos"

 Hoje deitei-me ao lado da minha solidão

Hoje deitei-me ao lado da minha solidão.
O seu corpo perfeito, linha a linha,
derramava-se no meu, e eu sentia
nele o pulsar do próprio coração.
Moreno, era a forma das pedras e das luas.
Dentro de mim alguma coisa ardia:
a brancura das palavras maduras
ou o medo de perder quem me perdia.
Hoje deitei-me ao lado da minha solidão
e longamente bebi os horizontes.
E longamente fiquei até sentir
o meu sangue jorrar nas próprias fontes.
Eugénio de Andrade, "As Mãos e Os Frutos"



1 comentário:

mariferrot disse...

Solidão, uma doce companhia, presente nas tempestades, que alimenta com lágrimas as tormentas silenciosas. Solidão a poda dos ramos mortos !!!...


Beijo Conde