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sábado, 19 de março de 2022

Eugénio de Andrade

 Escuta, escuta: tenho ainda

uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém – mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar.
Para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.

 Eugénio de Andrade




1 comentário:

mariferrot disse...

Não te demoro, é coisa pouca, diz o poeta no seu apelo a quem ouça a surdez da sua solidão, tão espalhada e tão vivida e como as pedras da rua tão pisada e tão sentida !!!...


Beijo Conde