POEMA
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quinta-feira, 31 de março de 2022
PAULA MENDONÇA
Se fosse possível estar contigo
neste dia que de negro se vestiu
seria para te dar o meu abraço
apertar-te contra o meu peito
embalar-te no meu colo
até que a tua dor adormecesse.
Se fosse possível encurtar a distância
por um toque de magia
voaria até ti
ainda antes do final do dia
Olhar-te-ia nos olhos
e sobre ti derramaria ternura
Seguraria a tua mão
e deixaria simplesmente
o tempo fluir.
Amaciaria a tua dor
com meandros de ternura
Dir-te-ia para nada temeres
que a vida é uma aventura
que a dor existe sim
mas também existem amigos
dispostos a connosco partilhá-la
porque sabem que um peso
se torna mais leve
quando por dois ou mais repartido…
Dir-te-ia que jamais morrem
os que no nosso coração continuam a viver
Esses, apenas, antes de nós partiram
para uma superior dimensão
onde homens se fazem anjos
ou se transformam em estrelas–guia
com o intuito de nos protegerem
guiando os nossos passos
iluminando os nossos dias
............. Respiro-te...
"Respiro-te"
Entrego as palavras ao amor
Entrego a voz à eternidade
Escrevo na intimidade da pele.
Encosto-me ao teu corpo
que arde por dentro.
E…
Os corpos nus transpiram...
Fazem eco os sons do amor...
O desejo consome os sentidos...
Respiro-te...
Quero-te...
Beijo-te...
Fica o sabor nos meus lábios
quando o tempo para,
os teus olhos sorriem
porque te sentes
desejada e selvagem,
entre sussurros e gemidos
fica no ar um odor a nós.
Encostas-te a mim e me abraças...
Trocamos olhares ternos
depois da erupção dos sentidos,
e quase me pedes para morrer contigo
porque será a única forma de renascer
juntos para a vida.
de Isabel de Sousa (Luadiurna)
No fundo dos teus olhos
Anoiteço no fundo dos teus olhos
e na noite, sub-repticiamente
instala-se a cortina do silêncio
Emolduro o teu rosto
no cansaço dos dias baços
e procuro-te na luz maior
de todas as constelações e de todas as criações
no fundo dos teus olhos
é que as palavras se entrelaçam
em dedos de ternura e afagos consentidos
É no fundo dos teus olhos
que amanhecem os dias solares
clandestinos na alma da cidade
as gaivotas
invertem o sentido do vôo
o meu desejo
anoiteço no fundo dos teus olhos
e é no fundo dos teus olhos
que amanheço
de Isabel de Sousa (Luadiurna)
Hamilton Ramos Afonso
Escuta
*
*
Escuta…
que bom sentir-te
em paz
a paz e a tranquilidade
que te advêm
da serenidade do campo
onde o tempo se escoa
mais lentamente
com os silêncios próprios
apenas interrompidos
pelos trinados
da passarada
e do voo das abelhas
na sua labuta diária
para recolherem o néctar
das flores e levarem destas
o pólen que vai fecundar
árvores e arbustos
gerando nova vida,
em frutos
Escuta...
a minha vontade
de fazer parte dessa paz
impregnar-me de silêncio
e no silêncio
olhar-te nos olhos
e sem dizer palavra
ser capaz de te dizer tudo
de aspirar os cheiros
da alfazema,
do alecrim
e das rosas
e inebriado com eles
envolver-te
num longo abraço
que te aconchegue,
sem te sufocar…
quarta-feira, 30 de março de 2022
POESIA DA DANÇA
A ESCOLHA DO NOSSO GUIA
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Quando esteve em Porto Velho Jorge Mautner, no seu show no Teatro Um do Sesc, me deu a honra de recitar uma poesia minha. Claro que fiquei muito feliz com o fato embora todo errado. Algumas pessoas me pediram para colocar a poesia disponível o que faço agora neste blog:
POESIA DA DANÇA
Vê é tão simples. De repente a mão
Na mão, o olhar no olhar, uns beijos.
Por que complicar? Não exija a razão.
De todo modo virá com o tempo.
Mas, com o tempo, virão outras coisas
Como a perda da magia, a dor e até
O tédio. De repente não há remédio
E, se tivermos, o mal não tem mais cura.
Segura o tempo!Segura! A mão agora
Oferece tanto. Não deixa de ser belo
O canto porque cessa. É tão lindo
Enquanto dura. Vamos, minha mão segura.
Por que temer ou colocar obstáculos
Contra o desejo que é tão natural?
Não contrarie a Natureza. Sê a presa
E a caçadora do prazer, que é tudo
Que nos resta quando o canto acaba.
A música da vida é feita de tais notas
E, se não se dança, no tempo certo,
Sobrevém o deserto e, também, se dança.
(De A Alquimia da Vida,1999)
FernandoPessoa
É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!
Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.
Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo.
Biografia de Fernando Pessoa
Fernando Pessoa (1888-1935) foi um dos mais importantes poetas da língua portuguesa e figura central do Modernismo português. Poeta lírico e nacionalista cultivou uma poesia voltada aos temas tradicionais de Portugal e ao seu lirismo saudosista, que expressa reflexões sobre seu “eu profundo”, suas inquietações, sua solidão e seu tédio.
Fernando Pessoa foi vários poetas ao mesmo tempo, criou heterônimos - poetas com personalidades próprias que escreveram sua poesia e, com eles procurou detectar, sob vários ângulos, os dramas do homem de seu tempo..
Autopsicografia
"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração."
My way by Hauser cello
Meu caminho por violoncelo Hauser
QUARTA-FEIRA, 30 DE MARÇO DE 2022
terça-feira, 29 de março de 2022
Alberto Caeiro
Não Tenho Pressa
Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exatamente aonde o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.
................ Duas almas
DUAS ALMAS |
.................. Não Digas Nada
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Não Digas Nada
Não digas nada
Até mesmo as palavras mais doces
São inúteis, em certos instantes,
Quando não há o que entender -
Tudo é somente questão
De sentir e de ver...
Não digas nada
Melhor esquecer
Talvez quem sabe amanhã
Em outro momento
A voz não seja vã
E tenha o tom exato
De saber o que diz
E o que me agrada...
Mas, hoje, me faz feliz:
Não digas nada.
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AMÉLIA MODERNA
AMÉLIA MODERNA
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Sei que comprei
Alguns sapatos a mais
Que gastei, gastei demais,
Mas foi você quem me seduziu
Quem se iludiu, me iludiu
E acostumou mal assim.
E não posso dizer que não gostei
Se, o doce, agora, acabou
O dinheiro também
Não me importo, meu bem,
Se tiver pra viver
Num lugarzinho qualquer
Só de peixe e farinha
Você pode dizer
Perdi tudo que tinha,
Porém aquela mulher
Ainda é minha,
Só minha!
.............. Canção...
CANÇÃO DA HORA INESPERADA
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Se não és um fantasma,
Se não tenho ilusão,
Por favor,
Não, não diga nada,
Nada de explicação.
Me dá só tua mão,
Me olha com o mesmo olhar
Que vou por a música pra tocar.
Só te dou permissão
Para um copo de vinho,
Um carinho, um beijo, talvez,
Antes de dançar.
Como pode ser a última vez
Só preciso que saiba
Que, hoje, me fez
Muito feliz.
POEMA DA ESPERA
POEMA DA ESPERA
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Talvez seja melhor
Que não venhas.
Ou, melhor ainda se nunca
tivesses vindo.
Porque se assim fosse
Não sentiria
O que estou sentindo
Tamanha ausência de significado.
Talvez seja melhor
Que não venhas.
Podes não ser
Mais nada do que foi
E só matar
O que houve entre nós dois.
Tanto tempos separados
Deve fazer diferença
E se, de repente,
Somos dois estranhos?
Não, é melhor que não venhas.
Melhor permanecer, como agora,
Sem saber por quais caminhos,
Lugares e bancos
Os teus sonhos repousam.
No entanto há uma parte de mim
Que insiste
Em que, de facto, jamais partistes.
E ainda sonha
Com os dias gloriosos
De tua volta
E me sussura
Que não te esquecerei.
Talvez seja melhor que não venhas-
Repito, ansioso, por ouvir tua voz rouca
Me chamar, novamente, de “Meu lindo”!
segunda-feira, 28 de março de 2022
Francisco Valverde Arsénio
Em ti, a vida... Francisco Valverde Arsénio
Abre-se a porta
para lá dos vislumbres do Éden.
Um quimérico intangível
oferece-me a noite
onde eu renasci tantas vezes.
Na embriaguez das madrugadas
trago-te em mim
na metafísica dos sentidos,
morres nos meus braços
e eu vivo no teu corpo.
Solta-se o tempo
no ecoar da alma,
onde a tua silhueta
por despir
se ilumina
nas velas da incerteza.
Rodopias o vestido branco
abandonado à nostalgia
e enxugas as dores.
Os seios arfam
ao sabor do vento
como a flor do algodão.
Preencho o teu vazio
com a minha carne,
sorves-me num beijo
na embriaguez do compasso
e há um anjo debruçado na tua janela.
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