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quinta-feira, 19 de abril de 2018

LÍLIA TAVARES, in RIO DE DOZE ÁGUAS (Coisas de Ler, 2012)









POEMA
Anoiteceu a tarde]


Anoiteceu a tarde
pura de açucenas
procuro a transparência
da tua espera como a um abraço
que me enlace e leve
para o mais profundo de ti.
Batem as horas no sino da capela
que desconhece se é de verão ou de frio
que os sentires se vestem.
Balbucio um chamamento surdo
só o entardecer pode levar a água
deste cântico de coragem e espera.
Sei que é improvável o tocar
dos teus ombros na concavidade
do meu colo grato por me habitares,
sei que a ausência se fatiga, mas a tua não
e que são de cristal e algodão
o toque das nossas mãos.
Por uma noite, um tempo te vou esperar
pois a vida não tem horas
quando as nossas vozes roucas se procuram,
de tanto aguardar, as mãos se retorcem
para depois se acariciarem...
Não pode haver tempo nem pressa
neste livro que se permite ler devagar
pois é nas páginas em que o marcador adormece

que renasce das palavras o amor maior.

LÍLIA TAVARES   



Foto de Antonio Maria.

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