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terça-feira, 26 de agosto de 2014

Antonio Ramos Rosa //// Desejo

 

A partir de uma folha reconstruí a árvore 
e tudo me foi dado porque ofereci 
ao abandonado deus da inércia mineral 
e de privilégio em privilégio reconheci o nada 
do meu tronco original e a sua redonda substância 
Baixei as pálpebras como quem entra num túmulo 
e penetrei na nuvem obscura de uma secreta pupila 
onde quem morre nasce e os deuses assomam 
os colos degolados     Entrei na selva de uma gruta
e vi as chamas e as sombras na dança dos desejos 
Colhi então uma pequena folha azul no chão vermelho 
e coloquei-a no ombro de uma mulher maravilhosa 
E de carícia em carícia formou-se uma folhagem 
e o tronco tenso da árvore no próprio corpo dela 
e no meu corpo unânime solidamente vivo


António Ramos Rosa
 
 

1 comentário:

fatima disse...

Baixei as pálpebras como quem entra num túmulo
e penetrei na nuvem obscura de uma secreta pupila
onde quem morre nasce e os deuses assomam
os colos degolados

beijinho Conde