EUGÉNIO DE ANDRADE
Um dos maiores poetas portugueses contemporâneos.( Póvoa de Atalaia 1923-Porto 2005).
Viveu em Lisboa, Coimbra, onde acabou os estudos, e no Porto onde viveu
muitos anos e viria a falecer. Sempre distanciado da vida mundana,
recebeu o Prémio da Associação Internacional de Críticos
Literários(1986), o Prémio D. Dinis da Casa de Mateus(1988), o Grande
Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores(1989) e o Prémio
Camões(2001).
De destaque na sua vasta obra : "As Mãos e os Frutos", "Os Amantes sem Dinheiro", " As Palavras Interditas", "Escrita da Terra", "Matéria Solar", "Rente ao Dizer", "Ofício de Paciência", "O Sal da Língua", "Os Lugares do Lume"....
Foi-me difícil escolher um poema, são todos de um lirismo impressionante. Escolhi este.
ELEGIA
Às vezes era bom que tu viesses.
Falavas de tudo com modos naturais:
Em ti havia a harmonia
dos frutos e dos animais.
Maio trouxe cravos como outrora,
cravos morenos como tu dizias,
mas cada hora
passa e não se demora
na tristeza das nossas alegrias.
Ainda sabemos cantar,
só a nossa voz é que mudou:
somos agora mais lentos,
mais amargos,
um novo gesto é igual ao que passou.
Um verso já não é a maravilha,
um corpo já não é a plenitude,
tu quebraste o ritmo, o ardor,
ao partires um a um,
os ramos da tua juventude.
Não estamos sós:
Setembro traz ainda
um fruto em cada mão.
Mas os homens, as aves e os ventos
já não bebem em ti a direcção.
in "Os Amantes sem Dinheiro"
Sem comentários:
Enviar um comentário