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terça-feira, 27 de outubro de 2020

Ainda Mario Montalbetti

 






                              COMO WALCOTT

 

Escrevo à mão com um lápis mongol nº 2 mal apontado

apoiando folhas de papel sobre meus joelhos.

 

Essa é a minha poética: escrever a lápis é a minha poética.

 

Se alguém perguntar como quero escrever

respondo "como Walcott". Essa também é a minha poética.

 

Também esperar que ela me morda o pescoço

para começar a escrever é a minha poética. A escuridão do mar

cheia de dobras, é a minha poética. Ela pergunta como quem

quero escrever

 

e eu respondo "Não sei, como Walcott". Ou melhor

 

minha poética é dizer algo visceral de uma só vez,

como na ópera, sem esperar que ocorra uma morte

especialmente interessante no final: é a minha poética.

 

O lápis mal apontado é essencial para minha poética.

 

Só assim ficam marcas nas folhas de papel

uma vez que as letras são apagadas e as palavras já não

 

se entendem ou saíram de moda ou qualquer outra coisa.

 

Ilustração: New York Times. 

1 comentário:

mariferrot disse...

Poética, cada qual com a sua põe música no papel, o instrumento é um lápis, a bela ferramenta, que tanto dá como tira a corrigir sem parar, mas o certo fica certo e não vale imitar !!!... <3


Beijo Conde