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terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Graça Pires

Por haver quedas de água nos seus olhos,
 é que é possível intuir, no sulco do poema,
 a livre aprendizagem da vida.
 Incessante, a sua voz se eleva em rotação de luz
 e rompe o círculo das sombras
 tão próximo dos lábios
 que mais parece a íntima alegria de cantar.
 Entre os seus dedos uma ave palpita,
 perturbada, como se urdisse em seu voo
 o perfil azul-claro das manhãs.
 O poeta tem sonhos de barro
 enrolados na garganta : o lugar
 onde os deuses sopram
 a pulsação das palavras
 e refazem o sentido dos dias.


 Graça Pires


 De Ortografia do olhar, 1996 
 
 
 
 

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