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domingo, 31 de janeiro de 2016

rui amaral mendes

lógicas
Janeiro. 

Mergulho na noite, na sala quente, embalado pela luz suave que me envolve no meio dos livros, anarquicamente dispostos no sofá, com a gata a meu lado.
Mergulho na noite para me encontrar nos interstícios dos silêncios.
A lua segue cheia, projectando alguma luminosidade sobre a rua numa noite sem grandes nuvens. Lembro-me do significado que tinha para ti o luar.
Da janela há muito esquecida da persiana que em tempo a protegeu vejo a árvore despida em frente. Estranho... abraço a lógica, mas é na sua ausência que verdadeiramente me encontro e revelo.
A lógica.
A lógica diz que à hora a que escrevo metade do mundo dorme... mas eis-me acordado.
Talvez seja aquilo a que a Matilde chamou o “intervalo ténue entre o sono e agilidade”.
Desculpa. Não é dos silêncios que te quero falar. Não a ti, que tanto te queixavas dos meus silêncios. ...
A madrugada vai longa e dirijo-me para o quarto onde mergulho, nu, na cama ainda por fazer desde manhã.
Escuta: esta noite sonhei.
Ao tempo que não sonhava. É verdade que é difícil: a duração dos meus sonos é pouco propícia às epifanias dos sonhos, remetendo-os para as horas de silêncio. Sonho de noite... acordado. Irónico, não é?!
É, deve ser isto a que a Matilde chamou o “intervalo ténue entre o sono e agilidade”. Só pode ser.
Escuta: hoje foi diferente.
Hoje sonhei enquanto dormia: entreguei-me nos teus braços, abandonei-me no teu corpo.
Reinventei-me enquanto me perdia.
Sabes, não sei se te apercebeste, mas durante o tempo em que estivemos juntos, fez sempre Verão... apesar de ser Outono.
Razão tinha o Valter quando descreveu sem o saber, naquela música do Paulo Praça, o que fazíamos quando estávamos juntos: “deslocávamos os cometas sem querer, as estrelas p'ra desenhos e a lua garantindo o amor.”
Lógica?!!! Estivesses a meu lado e imagino o teu riso único triturando as minhas certezas.
Um dia talvez perceba os insondáveis mistérios do amor, esse supremo e permanente mutante.
Escuta: hoje acordei com um indescritível desejo de abandonar os meus lábios na tua pele.
Pensei ligar-te. Queria encontrar-te... para me perder.
Logicamente.
Um beijo.



rui amaral mendes in esquissos   
 
 
                                                              

Alexandra //// Momento...

momento
bebo o teu sorriso lentamente
como delícia proibida
que sacia meu ser inquieto
sou cúmplice desse olhar
a trilhar-me a pele
como dedos atrevidos
a acordar-me anseios
que incendeiam meu corpo
 subitamente liberto
subitamente embriagado de ti
e então desvendas-me a alma
como pássaro rasgando o céu
Alexandra  
 
 
 

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

PABLO NERUDA

Não estejas longe de mim um dia que seja
Não estejas longe de mim um dia que seja, porque,
porque, não sei dizê-lo, é longo o dia,
e estarei à tua espera como nas estações
quando em algum sitio os comboios adormeceram.
Não te afastes uma hora porque então
nessa hora se juntam as gotas da insónia
e talvez o fumo que anda à procura de casa
venha matar ainda meu coração perdido.
Ai que não se quebre a tua silhueta na areia,
ai que na ausência as tuas pálpebras não voem:
não te vás por um minuto, ó bem-amada,
porque nesse minuto terás ido tão longe
que atravessarei a terra inteira perguntando
se voltarás ou me deixarás morrer.
PABLO NERUDA   
 
 
 
 

Maria Mamede ///// Rapto



RAPTO

Toma-me dos anjos
e leva-me nos teus braços
através dos caminhos
do luar
para lá da cordilheira…
toma-me dos deuses
e leva-me ao colo
abraçada a ti
para lá do azul…
contigo me farei pluma
e luz coada…
voemos então
enlaçados, meu amor
o infinito nos espera!...


Maria Mamede 
 
 
 
 

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

são reis

onde estás tu que não dás por mim
 a afagar-te a alma?
 a rasgar-me em sorrisos
 que não sinto
 apenas para te ver sorrir a ti?
 onde estás tu que não vês os meus olhos
 correndo como loucos
 atrás dos teus
 que não dás conta das rosas
 que desabrocharam antes de maio
 do rio que corre límpido
 com o degelo?!
 Onde estás tu meu amor
 que perdi a forma dos teus braços
 e a mansa quietude das tuas mãos?!
 Onde que nem dás por mim?!

 são reis   

 


quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

são reis ///// Será que...

Será que a tua boca ainda se recorda
 do meu amor?
 Será que os teus olhos ainda amanhecem
 húmidos quando pensas em mim?
 Será que a noite ainda se comove
 quando a olhas pela janela da tua alma?
 Será que ainda me guardas
 onde guardas as coisas que mais estimas?
 Sabes que o amor tem por vezes
 estranhas formas de gostar
 estranhas formas de ser lembrado
 estranhas formas de o querer de volta
 os dias perdidos
 em que fomos felizes
 em que não sabíamos das cores do dia
 nem nos perdíamos nas curvas dos caminhos
 por onde nunca andámos
Perdemos algures no outro
 o melhor sorriso que tínhamos
 e com ele
 perdemos a inocência
 e a vontade de acreditar
Mas a minha boca jamais esqueceu a tua
 e eu sei e tu sabes
 que o reverso é igualmente verdadeiro
talvez por isso
 e sem o sabermos
 a gente vai amar-se a vida toda
 como se nenhum de nós
 fosse verdadeiramente feliz e completo
 sem o outro
 talvez por isso e para isso
 é que ainda amanhecemos com a nossa boca
 gelada e humida
 procurando a outra
 como se uma fosse tão-somente a metade
 do que é preciso
 

 são reis  




terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Miguel Torga (((( Recomeça

RECOMEÇA
 
 
 
Se puderes
 Sem angústia
 E sem pressa.
 E os passos que deres,
 Nesse caminho duro
 Do futuro
 Dá-os em liberdade.
 Enquanto não alcances
 Não descanses.
 De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
 Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
 Sempre a sonhar e vendo
 O logro da aventura.
 És homem, não te esqueças!
 Só é tua a loucura
 Onde, com lucidez, te reconheças…


Miguel Torga   





Laura Santos

Toda a verdade do mundo
se revela na pequena estrela
que me ilumina nas mãos
a toada de uma morna lenta
se o meu pensamento veloz
dentro de mim inventa
a forma de te procurar.
A lua acomoda-se à janela
como vaga luz em castiçal
que nos meus olhos ateasse
o voraz lume do teu nome
e a tua muda voz em sopro
quente a mim chegasse.


Laura Santos   



segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

LINDA RIBEIRO

Poemas mal comportados / Como manda a medicina





 
Ah!Chiquinha abre as perninhas
Como abre o coração!
Dar é um ato sagrado,
Se do agrado,
Não se deve negar amor, não.
Ah! Chiquinha, minha neguinha,
nada de discriminação.
Dar, e com gosto, rainha,
é uma forma de oração.
Mais depressa, minha filhinha,
siga a intuição,
vamos nesta toadinha
só gozar à prestação.
Toda boa medicina
recomenda ao coração!
Faz assim...
Faz assim não!
Faz do jeito que quiser...
Negócio bom é mulher!

LINDA RIBEIRO 




Inspiro-me no vazio, nas mágoas e na saudade
Danço abraçado a chuva que lava o meu rosto mascarado de Pierrot
Suavemente me deixo guiar e com os olhos fechados aceito a tua mão,
Os meus pés tocam os teus e acompanhamos o violino, uma melodia feita para nos dois…
Um lamento, uma voz e um grito de prazer que fica no ar, neste instante suplico que me dispas, que me ames e penetres no fundo da minha alma...




Torquato da Luz


Escrevi o teu nome em todos os lugares
 procurei-te sem fim nos dias mais incertos
 tive sede de ti na solidão dos bares
 e fome do teu corpo em todos os desertos.

Fui soldado e lutei em busca do teu rosto
 que vi impresso a fogo em todas as esquinas.
 Deixei que me queimasse a dor do sol de Agosto
 e mergulhei sem medo em plagas submarinas.

Para te ter venci as longas avenidas
 de todas as cidades que ninguém ousou.

E por ti viverei largos anos de vida
 na ânsia de te dar tudo o que tenho e sou.


 Torquato da Luz  



sábado, 23 de janeiro de 2016

Ricardo- águialivre

Deixa que se unifiquem dois, num só coração
 .................................................
 Abraça-me. Quero sentir teu corpo no meu
 Viajar entre as nuvens em caminho proibido
 Por ti esquecer-me de quem sou, do ego meu
 Fechar os olhos, sentir o teu amor prometido
 Beija-me. Deixa em mim o calor do teu ser
 Entrega-te, através do sonho em noite pura
 Deixa-me dos teus lábios, teu carinho beber
 Saciar minha sede com tuas gotas de ternura
 Olha-me. Satisfaz a minha vontade de ser teu
 Embriaga-me de amor. Aceita um beijo meu
 Deixa-te viajar por entre estrelas de emoção
 Não aceites os apeadeiros da tua inconsciência
 Aceita num abraço o calor da minha apetência
 Deixa que se unifiquem dois, num só coração

 ..................
 Publicada por Ricardo- águialivre  



sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

A força do amor

A FORÇA DO AMOR


CORRIDA INFINITA

Todas as vezes que te procurava
Era para correr como um desesperado
Atrás de uma sombra que sempre corria mais.
Era uma corrida contínua e sem esperança
Ainda mais que uma voz me perseguia
Gritando com feroz autoridade
Que seria melhor esquecer antes que fosse tarde,
Mas, teimosamente, ainda assim persistia
E nem a corrida nem o pesadelo acabava
E lembro que era a vida que acabava
Sem que jamais conseguisse te esquecer.

Hamilton Ramos Afonso //// Por ti.....

Por ti...
 

 Por ti
 desisti de mim,
 descuidei a minha auto-estima ,
 apouquei-me ,
 descuidei afectos,
 perdi outros...
Por ti ,
 suportei a tua amargura,
 todos os pretextos para discutires,
 o quereres ficar sempre
 com a ultima palavra,
 as pedras que apanhavas
 para as brandires e atirares,
 o teu mau feitio...
Cansei-me,
 finalmente cansei-me
 e deixei a amargura de lado,
 jamais voltarei a alimentar
 a fogueira das discussões,
 por motivos banais,
 deixei a lenha para outras ocasiões ,
 para outras fogueiras
 que contigo são impossíveis
 de alimentar...
Cansei-me
 e apenas lamento
 o não ir a tempo
 de recuperar afectos
 que perdi para sempre ,
 por ti...


 Hamilton Ramos Afonso



quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Eugénio de Andrade

"Respiro o teu corpo:
 sabe a lua-de-água
 ao amanhecer,
 sabe a cal molhada,
 sabe a luz mordida,
 sabe a brisa nua,
 ao sangue dos rios,
 sabe a rosa louca,
 ao cair da noite
 sabe a pedra amarga,
 sabe à minha boca."


 Eugénio de Andrade
 
 

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

são reis

Guarda-me uma vez mais no meio dos teus sonhos
 e deixa-me voar em ti entre um sono e outro
 antes que a manhã chegue
 e eu não tenha mais espaço para percorrer
 as arestas e as avenidas que levam ao teu olhar
 para conseguir ser a ave que te transporta
 para longe de ti
 onde podes finalmente ser quem nunca foste
 e onde eu posso finalmente te amar como sempre quis!

 são reis
   
 
 
 

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Florbela Espanca

Falo de Ti às Pedras das Estradas


 Falo de ti às pedras das estradas,
 E ao sol que e louro como o teu olhar,
 Falo ao rio, que desdobra a faiscar,
 Vestidos de princesas e de fadas;

 Falo às gaivotas de asas desdobradas,
 Lembrando lenços brancos a acenar,
 E aos mastros que apunhalam o luar
 Na solidão das noites consteladas;

 Digo os anseios, os sonhos, os desejos
 Donde a tua alma, tonta de vitória,
 Levanta ao céu a torre dos meus beijos!

 E os meus gritos de amor, cruzando o espaço,
 Sobre os brocados fúlgidos da glória,
 São astros que me tombam do regaço!



 Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"  


VASCO GRAÇA MOURA,

SONETO DE COMPANHIA
 
 
 
falo às vezes do amor, dos seus dilemas,
 e das noites de insónia em que me viro
 para um e outro lado, mas prefiro
 que o próprio amor escreva os meus poemas.
se o faz, à própria vida é que retiro
 casos por mim passados e outros temas,
 para depois usar estratagemas
 de mentira e verdade e lhes adiro.
e então digo e desdigo e contradigo
 o dito e o não dito, e deixo o gosto
 das entrelinhas do que não consigo
dizer de outra maneira e é suposto
 andar a vida toda em mim, comigo:
 e assim falo do amor e do teu rosto.


VASCO GRAÇA MOURA,

Em O RETRATO DE FRANCISCA MATROCO E OUTROS POEMAS (1998), Em POESIA REUNIDA, 2, (Quetzal, 2012)  



domingo, 17 de janeiro de 2016

Eugenio de Andrade

Sei agora como nasceu a alegria,
 como nasce o vento entre barcos de papel,
 como nasce a água ou o amor
 quando a juventude não é uma lágrima.
É primeiro só um rumor de espuma
 à roda do corpo que desperta,
 sílaba espessa, beijo acumulado,
 amanhecer de pássaros no sangue.
É subitamente um grito,
 um grito apertado nos dentes,
 galope de cavalos num horizonte
 onde o mar é diurno e sem palavras.
Falei de tudo quanto amei.
 De coisas que te dou para que tu as ames comigo:
 a juventude, o vento e as areias.


Eugénio de Andrade    





sábado, 16 de janeiro de 2016

William Carlos Williams

 
 
I have eaten
the plums
that were in
the icebox
and which
you were probably
saving
for breakfast
Forgive me
they were delicious
so sweet
and so cold
  


William Carlos Williams



Isto é só para te dizer
 

Eu comi
as ameixas
que estavam
na geladeira
 

as quais
você provavelmente
guardou
do café da manhã
 

Perdoe-me
elas estavam deliciosas
tão doces
e tão frias   

 
William Carlos Williams   


                                                 

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Vóny Ferreira ///// Devaneio.....

Diva(go) em ti nos momentos mais íntimos e acho-te na pele dos pensamentos com a mesma fragrância que vai perfumando os meus sonhos. O tempo escorre.me por entre os dedos, sabes? E tudo perde o sentido quando reapareces no bordado da distancia, como aquele avião gigantesco que corta ao meio as nuvens do céu, e que ao comum dos mortais parece uma miniatura...
 Diva... que divagação me tira ou coloca dentro dos teus pensamentos? Mandaste-me olhar as cores para descontrair, lembras-te? sem te aperceberes que apenas o teu toque mágico de flauta me poderá devolver a leveza das horas que ainda terei que passar longe de ti...
 Ah, amor, meu amor... soubera eu como dizer-te o quanto as horas parecem anos e os dias séculos... longe de ti, quando o dia se aproxima (finalmente...)


 Vóny Ferreira 

 





RAM - Rui Amaral Mendes /// Norte


Norte 
 
 

peregrino em terra estranha
na solidão da distância que nos une
assoma à memória a beleza de um rosto
onde imperam dois horizontes cor de fogo
e um rio de alabastro
onde tantas vezes me perdi
 nesta solidão onde me tenho cativo
transfigura-se a terra
metáfora de um ventre dilacerado pela
dor de um amor ancorado na saudade
do regaço onde anseio repousar
 constituíste-te norte
que orienta a minha existência
és luz e teus olhos vitrais que a decompõem
cintilando no meu interior
com a beleza de um arco-íris que
aflora à superfície alva de meu rosto
dilapidando o contínuo do espaço
e delineando o esboço de um manso sorriso
que se alimenta na certeza
de te saber no mundo

 Rui Amaral Mendes in na luz do crepúsculo 


51 fotografias deslumbrantes de arco-íris duplo 14

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Hamilton Ramos Afonso /// O que te sai....

O que te sai...
 

 Tentas sorrir
 e o que te sai
 é um esgar de saudade,
 crispado e eivado de distância ,
 silêncio tumular
 a palavra amor...
 ...presa na garganta
Tentas gritar
 e nada te sai ,
 porque dentro do teu peito
 alguém te agrilhoa a voz...
 ...e tu apenas e só alinhavas
 palavras que saem soltas ,
 indefesas, atabalhoadas
 que contam a saudade
 de voltar à distância
 onde havia nas promessas de amor...
 ...falsas palavras que prometiam eternidade


 Hamilton Ramos Afonso 
  


 

 

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Graça Pires

Por haver quedas de água nos seus olhos,
 é que é possível intuir, no sulco do poema,
 a livre aprendizagem da vida.
 Incessante, a sua voz se eleva em rotação de luz
 e rompe o círculo das sombras
 tão próximo dos lábios
 que mais parece a íntima alegria de cantar.
 Entre os seus dedos uma ave palpita,
 perturbada, como se urdisse em seu voo
 o perfil azul-claro das manhãs.
 O poeta tem sonhos de barro
 enrolados na garganta : o lugar
 onde os deuses sopram
 a pulsação das palavras
 e refazem o sentido dos dias.


 Graça Pires


 De Ortografia do olhar, 1996 
 
 
 
 

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Maria Helena Guimarães /// Procuro


POESIA
 
( E porque a poetisa hoje faz anos , aqui vai mais um poema da sua autoria )
 
 
PROCURO
 
Procuro no mais profundo de mim
 uma gota do meu antigamente.
 A inocência que me punha em carmim
 as faces , consecutivamente.
A alegria que me inundava a alma,
 o calor que me cobria o abraço,
 a doçura, a ternura e a calma,
 dos quais não lampejo um traço.
E o amor universal que fluia
 dos meus actos e dos meus movimentos !
 o louco entusiasmo com que eu vivia
 as conquistas e os envolvimentos.
E o brilho no olhar azul , azul ,
 a confiança na Vida e na Verdade ;
 no corpo o calor dos mares do Sul
 e o alegre fulgor da mocidade.
Procuro no mais profundo de mim
 uma gota do meu antigamente.
 Que vejo ? O desalento sem fim
 preenchendo-me completamente.


Maria Helena Guimarães

Poema publicado no livro "" Intimidades """ em 1994
Iniciou-se na poesia pelos dezasseis anos,profundamente influenciada pela
 pela obra do poeta sertanejo brasileiro Casimiro de Abreu , onde aprendeu
 a métrica , a rima e a arte do ritmo da poesia.  





sábado, 9 de janeiro de 2016

Maria Helena Guimarães //// O abraço

O ABRAÇO
 
Sentávamo-nos à tarde na esplanada.
O sol no ocaso
purpureava o céu
e espreguiçava-se em prata sobre o mar;
a brisa trazia
murmúrios de concha
nos dedos finos
com que nos afagava os cabelos.
As palavras nasciam puras
e a vida parava ali,
num remanso morno de sorriso,
sem tempo,
sem mágoa,
o olhar elanguescido
de sol, de cor e de corpos morenos,
os sentidos prenhes dos odores mornos
de café e tabaco.
Sentávamo-nos à tarde na esplanada
tecendo no vazio do tempo
os fios do abraço
que nos adoçava a vida.

Maria Helena Guimaraes

Este poema ganhou uma "Menção Especial" nos 2ºs Jogos Florais do Século XXI promovidos pelo Movimento Cultural aBrace e Editora aBrace- Brasil, na celebração dos 200 anos da Catedral e do Cabildo de Montevideu.  

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sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Maria Helena Guimarães ///// Aquela centelha

AQUELA CENTELHA
 
 
Aquela centelha em teu olhar
 revelou , num ínfimo instante ,
 o medo que tens de me perder .
 Senti o teu mundo vacilar
 na voz arrastada e vacilante
 com que pretendeste responder.
Fiquei sem saber , por um momento ,
 tal foi a surpresa que senti ,
 como esse fulgor interpretar .
 Explodiu no peito o sentimento ,
 ofuscou-me a mente e eu nem vi
 que podia estar-te a embaraçar .
Deixei de pensar nos circunstantes
 que nos observavam , muito atentos ,
 Tentando compreender minimamente.
 Pensei-nos sòzinhos por instantes ,
 perdi o domínio por momentos ,
 entreguei-nos tão infantilmente !


Maria Helena Guimarães
Do livro """ Intimidades """ // 1994 





                             

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Mais um poema de Florbela Espanca //// Fanatismo


Mais um poema de Florbela Espanca----------
Fanatismo
 
 
Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
 Meus olhos andam cegos de te ver!
 Não és sequer razão de meu viver,
 Pois que tu és já toda a minha vida!
**
Não vejo nada assim enlouquecida...
 Passo no mundo, meu Amor, a ler
 No misterioso livro do teu ser
 A mesma história tantas vezes lida!
**
Tudo no mundo é frágil, tudo passa...
 Quando me dizem isto, toda a graça
 Duma boca divina fala em mim!
**
E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
 "Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
 Que tu és como Deus: princípio e fim!..."
**
(Livro de Soror Saudade, 1923)





Hamilton Ramos Afonso. //// Esperei - te ......

Esperei-te
 
 
 

 Esperei por ti até à exaustão,
 para que juntos cumpríssemos
 o que nos unia
 e que fomos construindo,
 com as nossas almas a conquistarem
 o afecto uma da outra.
Tudo fiz para alimentar esse afecto
 tratando-o como se trata
 a mais delicada das plantas,
 renovando o húmus ,
 mondando as ervas daninhas ,
 para que respirasse,
 adubando-a e regando-a
 para lhe dar alimento.
Mas a planta ,
 que também prometeste tratar,
 precisava das mesmas atenções,
 do mesmo afecto,
 de tua parte
Nunca pedi um tratamento de excepção,
 sempre disse que para mim bastava
 ser considerado alguém igual
 aos que chamas de amigo,
 mas a desconsideração ,
 a ultima desconsideração ,
 foi a gota de água, inquinada
 que fez mal à planta
 que descuidaste.
Por isso te digo
« Já não espero por ti»,***
porque não faz sentido esperar
 por quem não cuida do que conquistou...
E em consequência ,
 adio-me uma vez mais,
 e regresso a mim ,
 à minha concha ,
 para que com força de vontade
 e determinação siga em frente,
 trilhando de novo , o meu caminho...



Hamilton Ramos Afonso.  




terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Maria Olinda Maia

São momentos...
No silêncio da madrugada
 acalento os teus sonhos.
Acendes um cigarro
 e eu abro o champanhe.
O dia começa a clarear.
 Amar-te na alegria dos beijos
 na ternura do encontro dos corpos.
 Amar-te com a minha alma
 com a minha vida.


M.O.M.   



Eduardo Baqueiro //// Caminho


Caminho
 
 
Sofrer é a dor que cada um escolhe...
 Razão para chorar não há de faltar!
 Se escolheste caminho fácil
 Os problemas serão teus companheiros.
 Mas não precisa ser assim ...
 Não viva como se a vida fosse
 apenas um caminho!
 Ninguém nasceu para sofrer
 Nem tampouco para chorar...
 Chorar somente por alegria!
 Sorria da vida, no prazer e na dor!
 Já caminhei muito neste mundo
 E vi tantas pessoas com pena de si mesmas
 Perdendo um tempo que nunca mais
 terão de volta!
 Ninguém nasceu para viver sofrendo...
 É lindo ver o sorriso estampado na face
 É lindo amar e se deixar amar...
 Venha cá, menina chorona,
 Pare de sofrer, veja como a vida é bela
 Deixa-me secar estas lágrimas
 Para fazer surgir teu sorriso
 E que lindo sorriso,
 Maroto e insinuante
 Convidando para qualquer aventura
 Qualquer uma, desde que em sua companhia...
 Que coisa gostosa ter você!
 Que delícia perder meu tempo contigo!
  

Eduardo Baqueiro   




PABLO NERUDA ///// Te amo


doce!!!!!!!!

 
Te amo
Te amo de uma maneira inexplicável.
De uma forma inconfessável.
De um modo contraditório.
Te amo
Com os meus estados de animo que são muitos,
E mudam de humor continuamente.
Pelo que já sabe... O Tempo... A Vida... A Morte.
Te amo
Com o mundo que não entendo.
Com as pessoas que não compreendo.
Com a ambivalência de minha alma.
Com a incoerência dos meus actos,
Com a fatalidade do destino.
Com a conspiração do desejo.
Com a ambiguidade dos factos.
Ainda quando te diga que não te amo, te amo.
Até quando te engano, não te engano.
No fundo, levo a cabo um plano,
Para amar-te... melhor

PABLO   NERUDA

Para todos que amam e não assumem seu amor.......

A alguém este " TE AMO"    




segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Viniciuos de Moraes //// Coisa linda......

Eu ouvi no meu silêncio o prenúncio de teus passos
 Penetrando lentamente as solidões da minha espera
 E tu eras, Coisa Linda, me chegando dos espaços
 Como a vinda impressentida de uma nova primavera.
 Vinhas cheia de alegria, coroada de guirlandas
 Com sorrisos onde havia burburinhos de água clara
 Cada gesto que fazias semeava uma esperança
 E existiam mil estrelas nos olhares que me davas.
 Ai de mim, eu pus-me a amar-te, pus-me a amar-te mais ainda
 Porque a vida no meu peito se fizera num deserto
 E tu apenas me sorrias, me sorrias, Coisa Linda
 Como a fonte inacessível que de súbito está perto.
 Pelas rútilas ameias do teu riso entreaberto
 Fui subindo, fui subindo no desejo de teus olhos
 E o que vi era tão lindo, tão alegre, tão desperto
 Que do alburno do meu tronco despontaram folhas novas.
 Eu te juro, Coisa Linda: vi nascer a madrugada
 Entre os bordos delicados de tuas pálpebras meninas
 E perdi-me em plena noite, luminosa e espiralada
 Ao cair no negro vórtice letal de tuas retinas.
 E é por isso que eu te peço: resta um pouco em minha vida
 Que meus deuses estão mortos, minhas musas estão findas
 E de ti eu só quisera fosses minha primavera
 E só espero, Coisa Linda, dar-te muitas coisas lindas...


Vinicius de Moraes  



         

domingo, 3 de janeiro de 2016

são reis


Há qualquer coisa de belo
 nos teus olhos fechados
 e não é o castanho da tua pupila
 nem a cor da tua iris
Há qualquer coisa de mágico
 nesse teu semi sorriso
 nesse teu ar abandonado
 com que sentes o vento bater-te no rosto
Talvez seja apenas impressão minha
 mas eu diria que esperas ansiosa essa brisa nocturna
 que todos os dias te acaricia
 que todos os dias delicada te toca
 como só algo doce consegue tocar alguém
 quase imperceptível
 mas ao mesmo tempo com tamanha paixão
 como se tivesse dedos
 e todos eles mergulhassem dentro de ti ao mesmo tempo
 virando-te de dentro para fora
Há algo de belo e misterioso
 nesse teu pescoço de garça
 altivo e majestoso
 arfando com a delicadeza de um nenúfar
 que se abre e fecha conforme o sol lhe bate
E as palavras que sufocas na garganta?!
 que te cortam a respiração
 e te ferem como punhais ensaguentados
 com flores rubras no seu gume
 aciduladas e altivas
 tão capazes de te roubar o ultimo sopro
 como te devolver à vida de um só golpe
E aqueles segundos que te separam
 da vida e da morte
 em que voluntariamente te ofereces
 são tudo o que eu preciso para saber
 que em ti tudo é intenso e verdadeiro...

 ...porque é assim que deve ser!...

 são reis
 
 
 
 
 
 

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Manuel Alegre


Gostava de morar na tua pele
 desintegrar-me em ti e reintegrar-me
 não este exílio escrito no papel
 por não poder ser carne em tua carne.
Gostava de fazer o que tu queres
 ser alma em tua alma em um só corpo
 não o perto e o distante entre dois seres
 não este haver sempre um e sempre o outro.
Um corpo noutro corpo e ao fim nenhum
 tu és eu e eu sou tu e ambos ninguém
 seremos sempre dois sendo só um.
Por isso esta ferida que faz bem
 este prazer que dói como outro algum
 e este estar-se tão dentro e sempre aquém.


 Manuel Alegre 
 
 
 

 

 Amor
 Amor o teu rosto à minha espera, o teu rosto
 a sorrir para os meus olhos, existe um
 trovão de céu sobre a montanha.
as tuas mãos são finas e claras, vês-me
 sorrir, brisas incendeiam o mundo,
 respiro a luz sobre as folhas da olaia.
entro nos corredores de outubro para
 encontrar um abraço nos teus olhos,
 este dia será sempre hoje na memória.
hoje compreendo os rios. a idade das
 rochas diz-me palavras profundas,
 hoje tenho o teu rosto dentro de mim.


José Luís Peixoto

in A Casa, A Escuridão