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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

COMO SE.........

Como se...

 O firmamento parava nos meus olhos para te olhar. Como se a Primavera tivesse trazido as cores de todas as flores imperecíveis e os desígnios insondáveis do mundo e arredores. Dizias frases supostamente com sentido, e tomavas no teu o meu corpo como se não existisse a hora seguinte, e o amanhã pudesse ser remoto e adiável.

 Inventei em ti a frescura das manhãs e o mistério do movimento de translação da terra, a ondulação das giestas, os gestos quentes e atlânticos feitos de azul e mar. A certeza ilusória de um trilho em direcção ao sol poente, como anjo de asas cortadas que se tivesse esquecido de descobrir a claridade dos dias, mas se aventurasse na penumbra da noite.

 Reconheci o teu respirar no meu, sempre que a lua se sentava distraidamente no meu peito quando adormecias e me encostava a ti, e  existia uma leve brisa feita de ternura que despertava em deslumbramento todos os silêncios. Uma brisa feita de oceanos de palavras não ditas, amarrotadas nos bolsos, e da opulência de mãos acesas que davam luz aos corpos e incendiavam a matéria. Pendurei no teu corpo o infinito, como se um momento tivesse em si a semente robusta de um dia claro e abrangente. Como se tudo existisse em ti...

 Suaves gotas de chuva tépida molham o regresso dos dias. Descubro-te ainda em cada arco-íris, como se fosses o sol que me ilumina aonde quer que vá. Como se um brado sereno travasse os movimentos antes incontidos das marés, e todos os rios só encontrassem agora o caminho para o orvalho do meu olhar. Todo o sentimento de ausência pode ser um longuíssimo adágio ou uma sinfonia descontínua de sons e imagens difusas que estremecem no ruído dos dias. Ou tímidos vazios imperiais de desalento. Lá fora a manhã vagarosamente se anuncia. Restos de noite sobem de mão dada com a densa neblina enquanto o meu corpo, mera superfície lavrada, desperta a lembrança do Verão fazendo soprar um bafo quente de tempo irrepetível.

 Continuas a caminhar nos meus passos com a leveza das aves anónimas que há muito voaram para longe, aladas na ventania que deixa para trás árvores decapitadas. Galopo contudo a crista da manhã como se me esquecesse de ser triste, e a tranquilidade da noite tivesse emprestado ao dia uma doce e serena resignação.






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