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sábado, 31 de maio de 2014

Albano Martins /// Deixa que os meus olhos se fechem



E confiem um minuto nos teus…
Olha por mim, protege o meu sonho
Vigia o meu descanso e afasta-me de todas as mágoas...

Com os teus beijos apaga as lágrimas que correm pelo
meu rosto
Envolve-me nos teus braços e, cuida de mim
Preciso do teu apoio, do teu abraço, do teu sentido
Deixa-me descansar e,
Adormecer no teu peito
Deixa que os meus olhos durmam
nos teus…
Deixa-me sonhar
Deixa que sonhe com a tua boca
Com as tuas mãos, com os teu beijos,
Com teu corpo na minha pele
Com o teu calor a queimar-me por dentro
Com tudo o que quero de ti
Deixa que os meus olhos despertem
com o sol a romper nos teus olhos…
 
 
 
Albano Martins
 
 
 
 

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Lírios e rosas - Álvaro de Campos



Álvaro de Campos, um dos heterónimos de Fernando Pessoa:


Poema de Canção sobre a Esperança (I)


Dá-me lírios, lírios,

E rosas também.

Mas se não tens lírios
Nem rosas a dar-me,
Tem vontade ao menos
De me dar os lírios
E também as rosas.
Basta-me a vontade,
Que tens, se a tiveres,
De me dar os lírios
E as rosas também,
E terei os lírios -
Os melhores lírios -
E as melhores rosas
Sem receber nada,
a não ser a prenda
Da tua vontade
De me dares lírios
E rosas também.

[...]

Álvaro de Campos

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Luadiurna //// Foi asim.....

 

Foi assim....

Foi no crepúsculo da vida
Que se (me)acendeu um Sol nas mãos

iluminando-me o rosto,o sorriso e a alma....

e também o olhar
com que te vejo
com estes olhos interiores
quando passas por mim no coração
e pronuncio o teu nome

com amor


Luadiurna
 

 
 
 
 
 

Maria Helena Guimarães /// As tuas mãos



As tuas mãos longas
e morenas,
que exprimem do gesto
as subtilezas,...

são lindas, são etéreas,
são subtis.
Parecem aves
esvoaçando presas.

Como gosto
de, perdida em pensamento,
seguir as figuras
que, no espaço,
as tuas mãos desenham
sem sentido,
e cingi-las ao meu corpo
qual abraço...

Como gosto...
Quando apontam o Universo,
os dedos estirados
como setas...
Me elevam,
me redimem,
me libertam.
Me encontram o perdão
do meu pecado.
Me acalmam,
Me sublimam
Como ascetas !


Maria Helena Guimarães
 

Do livro " INTIMIDADES/1994 "
 
 

terça-feira, 27 de maio de 2014

Lua Diurna //// Nas asas de uma Gaivota

 


Pendurei o teu olhar
nas asas de uma gaivota
no litoral branco do mar
...

onde as palavras escorregam
no coração das cidades
à equidistância do abraço
no vértice do infinito

prolonguei no horizonte
as linhas do equilátero
e a gaivota retornou
na rotação das marés
e trouxe-me o teu olhar

num raio de sol nascente...

aconcheguei a ternura
na concha das minhas mãos
onde o amor acontece
  
 

Lua Diurna




neste refúgio de alma
a transbordar por ti

eternamente
Isabel Sousa (Lua Diurna)


 
 

Paula Raposo /// Um poema


A tua voz é um poema,
em ti, em mil e uma ideias
que me prendem;
e são, também, as tuas mãos,
o poema que a preto e branco
soletro na minha pele;
adormeço - hoje -
no cansaço de te amar:
um quadro, um poema,
a vida por viver.


Paula Raposo.
 
 
 

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Eugénio de Andrade //// urgentemente




É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
 
Eugenio de Andrade
 
 

De luadiurna /// Lua ancestral




Vestes a noite
com a tua claridade nua
ritos ancestrais de brumas e feitiços
vagueias em mim...

desde mais atrás de Avalon
e a noite é tua

percorres os sentidos
perpetuas os desejos
em lagos oníricos onde se perturba a razão

mágica é a tua presença
oh lua encantada

e eu percorro o deserto
das reticências do sentir
à procura de ti de mim
e do significado do mistério

habitas a noite
imaginas os sonhos
és lua noturna

e no teu olhar

acodes às manhãs
onde o dia se anuncia

afago-te a mão da aurora
e chamo-te a mim
envolvo-te num sorriso aberto

e sinto-te
noturna e diurna
neste eterno retorno
que me sabe a ti
 
luadiurna

 
.
 

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Estou com problemas no PC , por isso , fico em stand by...


 

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Fernando Campos de Castro /// Pecar na tua boca

 
Se amor é fogo que arde
Porque me chegas tão tarde
Num sorriso arrefecido...

Amor é mais sofrimento
Ao vermos passar o tempo
Sem nunca o termos vivido
Se amor dói e não se sente
É como andar descontente
Quando temos felicidade
É ter fome e sede imensa
De ver a alma suspensa
Nas amarras da saudade

Se amor é ter pena certa
Que nos prende e nos liberta
E nos limita os espaços
Desde o dia em que te vi
Eu quero prender-me a ti
Na cadeia dos teus braços
Se amor pode ser pecado
Eu quero estar a teu lado
Quando o pecado me chama
P’ra pecar na tua boca
E ter sempre a tua roupa
Junto aos pés da minha cama



Fernando Campos de Castro

 

 

terça-feira, 20 de maio de 2014

Eugénio de Andrade //// Só as tuas mãos trazem os frutos




Só as tuas mãos trazem os frutos.
Só elas despem a mágoa
destes olhos, choupos meus,
carregados de sombra e rasos de água.

Só elas são
estrelas penduradas nos meus dedos.
- Ó mãos da minha alma,
flores abertas aos meus segredos.

Eugénio de Andrade, As mãos e os frutos 




Foto de Ana Paola.

GABRIELA MISTRAL


 
Dá-me essa mão e dançaremos; dá-me essa mão e amar-me-ás. Como uma só flor nós seremos, como uma flor e nada mais. O mesmo verso cantaremos e ao mesmo ritmo dançarás. ....
          
                         
            


Dá-me essa mão e dançaremos;
dá-me essa mão e amar-me-ás.
Como uma só flor nós seremos,
como uma flor e nada mais.

O mesmo verso cantaremos
e ao mesmo ritmo dançarás.
Como uma espiga ondularemos,
como uma espiga e nada mais.
Chamas-me Rosa e eu Esperança;
mas o teu nome esquecerás,
Porque seremos uma dança
sobre a colina e nada mais.
 
Gabriela Mistral

 



(Tradução de Fernando Pinto do Amaral)

Arte : tango dancer - oil painting by Mark Bennett


 

domingo, 18 de maio de 2014

Eugenio de Andrade /// TU és a esperança , a madrugada



Tu és a esperança, a madrugada.
Nasceste nas tardes de JUNHO...,
quando a luz é perfeita e mais dourada,
e há uma fonte crescendo no silêncio...

da boca mais sombria e mais fechada.

Para ti criei palavras sem sentido,
inventei brumas, lagos densos,
e deixei no ar braços suspensos
ao encontro da luz que anda contigo.

Tu és a esperança onde deponho
meus versos que não podem ser mais nada.
Esperança minha, onde meus olhos bebem,
fundo, como quem bebe a madrugada.


Eugénio de Andrade
 


sexta-feira, 16 de maio de 2014

são reis //// És assim.....

            
És assim como um dilúvio
que arrasa e destrói
uma tempestade forte
que desmorona
arranca pela raiz

um abalo telúrico
que me desmonta
que arrepia
de quem toda a gente desconfia
quando me vê assim
andando de olhos postos no céu
que não vejo
mas é assim o amor
é assim o desejo
é assim que sou feliz
amando o que sinto
amando o que não vejo



são reis
16maio14


 

Paula Raposo /// Por ti...

Damos as mãos, em simultâneo,
nem sequer nos olhamos,
basta o tacto, e esse calor
húmido que me inebria.

Quero sentir-te,
fervilhar no afago da tua mão,
e derreter-me nas mãos do nosso amor.

Não me deixes,
segura-me ainda,
aperta-me, enlouquece-me;
desliza pelo meu corpo
que te espera, entra em mim.

Deixa que eu me entregue
pelo tempo que o tempo dura,
vive por mim, em mim,
o momento de ser tua.


Paula Raposo in ' canela e erva doce' , pág.11,
 2006 - Magna Editora
 
 
 
 
 

quinta-feira, 15 de maio de 2014

por Isabel Sousa

Pendurei o teu olhar
nas asas de uma gaivota
no litoral branco do mar

onde as palavras escorregam...
no coração das cidades
à equidistância do abraço
no vértice do infinito

prolonguei no horizonte
as linhas do equilátero
e a gaivota retornou
na rotação das marés
e trouxe-me o teu olhar

num raio de sol nascente...
aconcheguei a ternura
na concha das minhas mãos
onde o amor acontece

na urgência dos sorrisos
na tangente do sentir

neste refúgio de alma
a transbordar por ti

eternamente

por
Isabel Sousa

 


 

Natalia Correia



Há noites que são feitas dos meus braços
E um silêncio comum às violetas.
E há sete luas que são sete traços
De sete noites que nunca foram feitas.

Há noites que levamos à cintura
Como um cinto de grandes borboletas.
E um risco a sangue na nossa carne escura
Duma espada à baínha dum cometa.

Há noites que nos deixam para trás
Enrolados no nosso desencanto
E cisnes brancos que só são iguais
À mais longínqua onda do seu canto.

Há noites que nos levam para onde
O fantasma de nós fica mais perto;
E é sempre a nossa voz que nos responde
E só o nosso nome estava certo.

Há noites que são lírios e são feras
E a nossa exactidão de rosa vil
Reconcilia no frio das esferas
Os astros que se olham de perfil.

Natália Correia

 
                                                                        
 
               
               
 

Helena Guimaraes /// DEIXA SÓ


Deixa só que os  meus olhos
acariciem teu corpo,
mesmo de longe e sózinhos.
No meu caminho de escolhos
o ver-te é chegar ao porto.
Vencer os ventos daninhos.

Meus olhos não te magoam
quando exploram, dolentes,
o teu corpo de mansinho.
Não te julgam. Só perdoam.
Bebem-te os gestos , frementes,
e cobrem-te de carinho.

Olhar-te , estou consciente.
é flôr de suave fragância,
aromas desconhecidos.
Só por si é suficiente
para diminuir esta ânsia
e adormecer os sentidos.

Deixa pois que os meus olhos
o teu corpo acariciem
mesmo de longe , ansiosos
E como flor entre abrolhos
só de ver-te se saciem
e deixem de estar saudosos.

Helena  Guimaraes~

Do livro "" Intimidades/1994 ""





Pedro Abrunhosa ///// deixas em mim tanto de ti






Frank Sinatra - Thats Life /// Esta é a vida




terça-feira, 13 de maio de 2014

Maria do Rosário Pedreira /// Esta manhã encontrei o teu nome

 


Esta manhã encontrei o teu nome nos meus sonhos
e o teu perfume a transpirar na minha pele. E o corpo
doeu-me onde antes os teus dedos foram aves
de Verão e a tua boca deixou um rasto de canções.

No abrigo da noite, soubeste ser o vento na minha
camisola; e eu despi-a para ti, a dar-te um coração
que era o resto da vida - como um peixe respira
na rede mais exausta. Nem mesmo à despedida

foram os gestos contundentes: tudo o que vem de ti
é um poema. Contudo, ao acordar, a solidão sulcara
um vale nos cobertores e o meu corpo era de novo
um trilho abandonado na paisagem. Sentei-me na cama

e repeti devagar o teu nome, o nome dos meus sonhos,
mas as sílabas caíam no fim das palavras, a dor esgota
as forças, são frios os batentes nas portas da manhã.

Maria do Rosário Pedreira

Foto: Barry Elkins

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Álvares de Azevedo //// Soneto

Passei ontem a noite junto dela.
Do camarote a divisão se erguia
Apenas entre nós - e eu vivia
No doce alento dessa virgem bela...

 Tanto amor, tanto fogo se revela
Naqueles olhos negros! Só a via!
Música mais do céu, mais harmonia
Aspirando nessa alma de donzela!

 Como era doce aquele seio arfando!
Nos lábios que sorriso feiticeiro!
Daquelas horas lembro-me chorando!

Mas o que é triste e dói ao mundo inteiro
É sentir todo o seio palpitando...
Cheio de amores! E dormir solteiro!



Álvares de Azevedo  


Helena Guimaraes //// INSÓNIA


 INSONIA


Nas noites de insónia
converso contigo.
Questionas a eito
com esse teu jeito.
e eu, como a um amigo,
confio-te ainda
os meus pensamentos,
partilho momentos.
Analisas meus medos,
escutas segredos,
mas não vês o rio
que corre pelas faces,
nem sentes o frio
da falta do abraço.
Este ténue laço
de que tenho uma ponta,
solitária e tonta,
flutua a outra no espaço
sem tua mão, sem teu calor.
Porque nos perdemos, amor?
 
Helena Guimaraes
 
Do livro Intimidades / 1994
 
 


domingo, 11 de maio de 2014

Isabel de Sousa //// Acreditei

Dobro a esquina do silêncio
na encruzilhada do tempo
procuro o teu rosto
no poema guardado
que te fiz
 
e não te disse
 
molhado na ausência
do teu sentir
ficou-me na boca o gosto amargo
da partida inesperada
talvez esperada nas entrelinhas
daquilo que em ti se adivinha
permanente
 
todo o mundo
num segundo
em que te disse
que te amava
o medo
o muro
o silêncio
 
parti assim de ti
de mim
do desengano
do terreno encantado que pisei
conto de fadas
no faz de conta
em que te moves
no horizonte dos enganos
 
acreditei
 
que era o teu rosto
que via nas madrugadas
em que acendia uma estrela
para iluminar os teus olhos
no reflexo dos meus
 
perdida me encontrei
na encruzilhada do tempo
e foi então que dobrei
esta esquina do silêncio 
 
Isabel de Sousa ( 2014 / Maio )
 
 


LÍLIA TAVARES //// In Parto com os ventos



Quero acordar-te
da profundidade do teu sono,
da carícia tornada ferida,
do crepúsculo não vivido.

Buscaste-me quebrando
um a um os silêncios
das tuas mãos,
pisaste as estradas,
com asas chegaste
como o outono
discreto mas presente.
Sou a semente que se perdeu
entre as pedras do caminho
e o luar esquecido pela claridade
dos néons.
Soube-nos a chegada
a partida pela noite.
Se voltas,
porque tens de partir
na cauda dos ventos do norte?
O frio percorre-me
quando começa a sombra da tua ausência.


LÍLIA TAVARES


in PARTO COM OS VENTOS (Kreamus, 2013)




Daniela S. Pereira //// Advinhas-me

 
 

 
 



Sussurro-te uma frase inacabada
E tu desvendas no meu olhar,
Todo o restante mistério.

Adivinhas-me,
Por entre os dedos que te tocam
E que te escrevem.

E te descrevem…

Adivinhas-me,
Como adivinhas a melodia
Dos fios do meu cabelo,
Soltos numa brisa suave ao teu olhar.

Adivinhas-me,
O arrepio na pele
Quando percorres com as pontas dos dedos,
Os lábios que te beijam em silêncio.

E num sopro de um só sentimento,
Aprendeste a amar(me)
Como ninguém
.
 


Daniela S. Pereira 
 

 
 
 

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Laura Santos /// Dias de Maio





Os dias de Maio traziam a luz dourada
roubada nos grandes pomares distantes
e um cheiro a fruta madura debicada
por pássaros sôfregos e errantes.
Regatos contornavam ao sol posto
caminhos de sede e pedra dura retalhada,
murmúrios de água fresca transbordavam
as indecisas margens do teu rosto.
O sol do meio-dia era albatroz
de longas asas que na sombra repousava
sem movimento ou sussurro de voz.
O meu pensamento para ti voava
derramado lentamente em triste foz.
Era o dia todo, todo o dia.
Um dia que em ti cedo começava.
Um dia em que em ti permanecia.
 
 
Laura Santos

Eugenio de Andrade /// Madrigal

      


                                                              


Toda a manhã
fui a flor 
impaciente
por abrir.

Toda a manhã
fui ardor
do sol
no teu telhado.

Toda a manhã
fui ave
inquieta
no teu jardim.

Toda a manhã
fui ave ou sol ou flor
secretamente 
ao pé de ti.

Eugénio de Andrade

 

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Panaceias.....

Saudade é assim como doença.
Só passa com remédio forte. Não nos iludamos.
Para matar saudade

mesmo, mesmo,
tem que ser com pele na pele.
Abraço e mais abraço e mais abraço.
E beijo, claro!
E o olfacto...
Aquele odorzinho bom que fica no contacto,
um corpo coladinho ao outro.
Mas para matar saudade ainda é preciso
(indispensável, digo)
que a gente se fique olhando um belo pedaço.
O tempo suficiente.
Não tem dose.
É quanto baste.
Olhando e limpando lágrimas,
e ranhos, e sorrisos,
e dizendo bobagens,
fazendo tolas interjeições.
Só depois disso há palavras com sentido.
Só depois entramos no ritmo.

Mas cuide-se…
Saudade cura-se, mas tem recidiva forte.


 
 
 
 

 

Ruy Belo //// E TUDO ERA POSSÍVEL



Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido

Chegava o mês de Maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido

E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio o não sei dizer

Só sei que tinha o poder duma criança
Entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer.


Ruy Belo