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terça-feira, 4 de maio de 2021

rui amaral mendes in a noite o sangue [2016] ©

 







 


lembro aquela primeira em vez 
em que me persuadiste a fechar os dedos 
por onde passava a areia que contava 
o correr louco dos dias 

falaste de uma brisa matinal 
de palavras feitas 
com que despertavas diariamente 
da matéria do tempo 

pensei na Elsinore de Cesariny 
e na floração da magnólia de Luiza 

exigiste 
lume 
para te dar chão 
vento 
para navegar as águas 


exigiste 
presente 
para exorcizar 
os espectros que teimosamente 
habitavam os pretéritos 

telúrico 
senti a noite  
penetrar a pele 

um ar quente          silente
embrenhando-se na carne 
e uma humidade 
entranhando-se nos ossos 
despindo o céu de luz 
num início de verão 

questionei o significado da
aparentemente estranha 
metáfora dos elementos 
e demandamos juntos 
o sentido das circunstâncias 

fomos conduzidos pelo 
indelével toque das mãos 
e pelas emanações da pele 
autenticada pelo amor 
através da madrugada 
até um tempo novo 
em que dos olhos fizemos 
pontos de luz 
e intimamente próximos 
dissipamos o nevoeiro


rui amaral mendes in a noite o sangue [2016] © 


Nota:  dedicado a UMA seguidora de sempre neste meu blog.

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