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sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Bertolt Brecht, em "Poemas 1913-1956". [seleção e tradução de Paulo César de Souza], São Paulo: Editora 34, 2000, p. 20.

 Canto de uma amada

1. Eu sei, amada: agora me caem os cabelos, nessa vida dissoluta, e eu tenho que deitar nas pedras. Vocês me vêem bebendo as cachaças mais baratas, e eu ando nu no vento.
2. Mas houve um tempo, amada, em que era puro.
3. Eu tinha uma mulher que era mais forte que eu, como o capim é mais forte que o touro: ele se levanta de novo.
4. Ela via que eu era mau, e me amou.
5. Ela não perguntava para onde ia o caminho que era seu, e talvez ele fosse para baixo. Ao me dar seu corpo, ela disse: Isso é tudo. E seu corpo se tornou meu corpo.
6. Agora ela não está mais em lugar nenhum, desapareceu como uma nuvem após a chuva, eu a deixei, ela caiu, pois este era seu caminho.
7. Mas à noite, às vezes, quando me vêem bebendo, vejo o rosto dela, pálido no vento, forte, voltado para mim, e me inclino no vento.


- Bertolt Brecht, em "Poemas 1913-1956". [seleção e tradução de Paulo César de Souza], São Paulo: Editora 34, 2000, p. 20.




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