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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Wislawa Szymborska











Ambos estão convencidos 
que os uniu uma paixão súbita. 
É bela esta certeza, 
mas a incerteza é mais bela ainda. 

Julgam que por não se terem encontrado antes, 
nada entre eles nunca ainda se passara. 
E que diriam as ruas, as escadas, os corredores 
onde se podem há muito ter cruzado? 

Gostaria de lhes perguntar 
se não se lembram - 
talvez nas portas giratórias, 
um dia, face a face? 
algum “desculpe” num grande aperto de gente? 
uma voz de que “é engano” ao telefone? 
- mas sei o que respondem. 
Não, não se lembram.  

Muito os admiraria 
saber que desde há muito 
se divertia com eles o acaso. 

Ainda não completamente preparado 
para se transformar em destino para eles, 
aproximou-os e afastou-os, 
barrou-lhes o caminho 
e, abafando as gargalhadas, 
lá seguiu saltando ao lado deles. 

Houve marcas, sinais, 
que importa se ilegíveis. 

Haverá talvez três anos 
ou terça-feira passada, 
certa folhinha esvoaçante 
de um braço a outro braço. 
Algo que se perdeu e encontrou? 
Quem sabe se já uma bola 
nos silvados da infância? 

Punhos de poeta e campainhas 
onde a seu tempo o toque 
de uma mão tocou o outro toque. 
As malas lado a lado no depósito. 
Talvez acaso até um mesmo sonho 
que logo o acordar desvaneceu. 

Porque cada início 
é só continuação, 
e o livro das ocorrências 
está sempre aberto ao meio.




Wislawa Szymborska    







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