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quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Nuno Júdice






























Para definir a substância do teu corpo
teria de me afastar dos conceitos da filosofia mais pura,
do ser e das suas qualidades essenciais, e também
da imagem evanescente que envolve aquilo
a que se dá o nome de alma. Teria de seguir a corrente
de um rio subterrâneo, que atravessa a planície do tempo
sem se deixar limitar pelas suas margens; e ouviria,
sob o silêncio mais profundo de uma noite
sem lua, a lenta respiração da terra perpassar
nos teus lábios.

Poderia, então, apanhá-la com as mãos, como
se faz a um fruto, e senti-la-ia escorrer por entre
os dedos como a água mais límpida. Dir-me-ias
que estou longe, ainda, do que se entende por
amor. Pouco importa: o que vejo no teu rosto,
quando a ausência o converte num arquétipo, e
nele projecto todas as figuras do desejo, é 
o desenho dessa palavra que te veste com
as suas sílabas de sol, e percorre o poema
com a sua luz.


Nuno Júdice

1 comentário:

Fatima maria disse...

Teria de seguir a corrente
de um rio subterrâneo, que atravessa a planície do tempo
sem se deixar limitar pelas suas margens; e ouviria,
sob o silêncio mais profundo de uma noite
sem lua, a lenta respiração da terra perpassar
nos teus lábios.

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