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domingo, 24 de dezembro de 2017

Al Berto









água

sabes, as aves aquáticas já não pernoitam junto ao mar nem por entre nossos
dedos de areia
sobem-me vozes calcárias à garganta, estrangulo-me neste humilde canto,
fico atento ao eterno silêncio do teu castelo
às vezes escuto teu cantar, raramente, é certo... mas quando cantas saem-te
nomes puros da boca e sorrisos diáfanos de cristais
os lábios incendeiam-se com vinho, teu corpo adquire o sabor misterioso
das algas
no crepúsculo expande-se o perfume a moreia frita, teu olhar é o mosto
dos nossos desejos
dançamos à roda dum mastro, saia em papel de seda bordada com
búzios... uma quadra flutua pela noite de nossos cabelos
rodopias, e os teus amores são relembrados noite adiante
espalham-se estrelas cadentes, papoulas breves, junco molhado
e o mar enche-se novamente de pássaros, embarcações semelhantes a beijos
que nos percorrem de alegria

Al Berto
Foto de Antonio Maria.

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