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domingo, 24 de dezembro de 2017

Joaquim Pessoa










Estou pertíssimo do Natal e vou conseguir. Mesmo não tendo
ainda dito que te amo, hoje é um daqueles dias em que se acre-
dita em tudo, que não cheiram a tristeza, e mesmo a miséria
parece poderosamente descontraída. Gosto muito do ar, da rou-
pa que usa o vento da manhã, e até o céu está tão generosa-
mente baixo que parece querer entrar, também ele, pelas cha-
minés.
Toda a gente precisa de amor. E se não precisa só de amor, ho-
je parece não precisar de mais nada. O que tiver de acontecer,
acontece. Este não é o tempo para óptimas ideias. Está tudo
previsto. Tudo preparado. Tudo muito "isto é para si". Mas a ge-
nerosidade já não é o que era. E as crianças também não. Cres-
ceram, e agora parecem-se connosco.
Acredito que se passa alguma coisa de grave, mas hoje nem me
apetece saber o quê. Estou apaixonado pela incerteza, não que-
ro esmiuçar as coisas. Só relacioná-las. Só saber o resultado da
sua soma. E hoje, tudo somado, dá isto: amanhã é dia de Natal.
Um acontecimento tão necessário como nevar no mar.


Joaquim Pessoa

24 de Dezembro de 2017·

in ANO COMUM, 2.ª Ed.
Editora Edições Esgotadas, 2013

Foto de Antonio Maria.

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