Estou pertíssimo do Natal e vou conseguir. Mesmo não tendo
ainda dito que te amo, hoje é um daqueles dias em que se acre-
dita em tudo, que não cheiram a tristeza, e mesmo a miséria
parece poderosamente descontraída. Gosto muito do ar, da rou-
pa que usa o vento da manhã, e até o céu está tão generosa-
mente baixo que parece querer entrar, também ele, pelas cha-
minés.
Toda a gente precisa de amor. E se não precisa só de amor, ho-
je parece não precisar de mais nada. O que tiver de acontecer,
acontece. Este não é o tempo para óptimas ideias. Está tudo
previsto. Tudo preparado. Tudo muito "isto é para si". Mas a ge-
nerosidade já não é o que era. E as crianças também não. Cres-
ceram, e agora parecem-se connosco.
Acredito que se passa alguma coisa de grave, mas hoje nem me
apetece saber o quê. Estou apaixonado pela incerteza, não que-
ro esmiuçar as coisas. Só relacioná-las. Só saber o resultado da
sua soma. E hoje, tudo somado, dá isto: amanhã é dia de Natal.
Um acontecimento tão necessário como nevar no mar.
Joaquim Pessoa
24 de Dezembro de 2017·
in ANO COMUM, 2.ª Ed.
Editora Edições Esgotadas, 2013
Sem comentários:
Enviar um comentário