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segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Alberto Caeiro


O meu olhar é nítido como um girassol....

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo comigo
Que teria uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a grande novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo.

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...



Amar é a inocência,
E toda a inocência é não pensar...


Alberto Caeiro
(in Poesia dos Outros Eus; ed. Assírio & Alvim)


[O meu olhar é nítido como um girassol]    Alberto Caeiro    O meu olhar é nítido como um girassol.  Tenho o costume de andar pelas estradas  Olhando para a direita e para a esquerda,  E de vez em quando olhando para trás...  E o que vejo a cada momento  É aquilo que nunca antes eu tinha visto,  E eu sei dar por isso muito bem...  Sei ter o pasmo comigo  Que teria uma criança se, ao nascer,  Reparasse que nascera deveras...  Sinto-me nascido a cada momento  Para a grande novidade do Mundo...    Creio no mundo como num malmequer,  Porque o vejo. Mas não penso nele  Porque pensar é não compreender...  O mundo não se fez para pensarmos nele  (Pensar é estar doente dos olhos)  Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo.    Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...  Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,  Mas porque a amo, e amo-a por isso,  Porque quem ama nunca sabe o que ama  Nem sabe porque ama, nem o que é amar...    Amar é a inocência,  E toda a inocência é não pensar...    (in Poesia dos Outros Eus; ed. Assírio & Alvim)

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