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segunda-feira, 16 de maio de 2022

Joaquim Pessoa

 

Photo: Masao Yamamoto













Eu sei, não te conheço, mas existes. 
Por isso os deuses não existem, 
a solidão não existe 
e apenas me dói a tua ausência 
como uma fogueira 
ou um grito. 

Não me perguntes como mas ainda me lembro 
quando no outono cresceram no teu peito 
duas alegres laranjas que eu apertei nas minhas mãos 
e perfumaram depois a minha boca. 

Eu sei, não digas nada, deixa-me inventar-te. 
Não é um sonho, juro, são apenas as minhas mãos sobre a tua 
nudez 
como uma sombra no deserto. 
É apenas este rio que me percorre há muito e desagua em ti, 
porque tu és o mar que acolhe os meus destroços. 
É apenas uma tristeza inadiável, uma outra maneira de habitares 
Em todas as palavras do meu canto. 

Tenho construído o teu nome com todas as coisas. 
Tenho feito amor de muitas maneiras 
docemente, 
lentamente, 
desesperadamente, 
à tua procura, sempre à tua procura 
até me dar conta que estás em mim, que é em mim que devo 
procurar-te, 
e tu apenas existes porque eu existo 
e eu não estou só contigo 
mas é contigo que eu quero ficar só 
porque é a ti 
que eu amo.


Joaquim Pessoa

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