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terça-feira, 31 de maio de 2022

DAME LA MANO Gabriela Mistral

 

Gabriela Mistral


DAME LA MANO

Gabriela Mistral



Dame la mano y danzaremos;


Dê-me tua mão

Dê-me tua mão e dançaremos;
dê-me tua mão e me amarás.
como uma flor seremos
como uma flor e nada mais ...
O mesmo verso cantaremos,
no mesmo passo dançarás.
Como uma espiga ondularemos
como uma espiga e nada mais.
Te chamas Rosa e eu, Esperança;
porém, teu nome esquecerás,
porque seremos uma dança
na montanha e nada mais ...







Nuno Júdice

 

Photo: Masao Yamamoto


















Concordo com delmore schwartz: 
"uma mulher nua é uma prova da existência de Deus". 
Podia dizer: uma prova suficiente. Apenas 
o indispensável para que a dúvida se dissipe, 
e o grande cenário do Paraíso se abra 
em ecrã gigante e som estereofónico (sim: 
os anjos cantam por cima disto). 


Nuno Júdice

segunda-feira, 30 de maio de 2022

Eu sei, não te conheço, mas existes.... Joaquim Pessoa

 

Foto: Masao Yamamoto













Eu sei, não te conheço, mas existe. 
Por isso os deuses não existem, 
a solidão não existe 
e apenas me dói a tua ausência 
como uma possibilidade 
ou um grito. 

Não me pergunte como mas ainda me lembro 
quando no outono cresceram no teu peito 
Alegres laranjas que eu aperte duasi nas minhas mãos 
e perfume depois a minha boca. 

Eu sei, não digas nada, deixa-me inventar-te. 
Não é um sonho, jura, são apenas as minhas mãos sobre a tua 
nudez 
como uma sombra no deserto. 
É apenas este rio que me percorreu há muito e desagua em ti, 
porque tu és o mar que acolhe os meus destroços. 
É apenas uma tristeza inadiável, uma outra maneira de habitares 
Em todas as palavras do meu canto. 

Tenho construído o teu nome com todas as coisas. 
Tenho feito amor de muitas maneiras 
docemente, 
lentamente, 
desesperadamente, 
à tua procura, sempre à tua procura 
até me dar conta que está em mim, que é em mim que devo 
procurar-te, 
e tu apenas existe porque eu existo 
e eu não estou só contigo 
mas é contigo que eu quero ficar só 
porque é a ti 
que eu amo.


Joaquim Pessoa

domingo, 29 de maio de 2022

Amado Nervo

 Bendita


Bendita sejas, porque me fizestes
amar a morte, que antes temia.
Desde que de te fostes,
amo a morte quando estou triste;
se estou alegre, mais, todavia.

Em outro tempo, sua foice glacial
me deu terrores; hoje é amiga.
E a pressinto tão maternal!
Tu realizaste prodígio tal.
Deus te bendiga! Deus te bendiga!

Amado Nervo







Jaimes Sabines

 Teu corpo está a meu lado


Teu corpo está ao meu lado ...
fácil, doce, calado.
Tua cabeça no meu peito se arrepende
com os olhos fechados
e eu te olho e fumo
e acaricio os teus cabelos, enamorado.
Esta ternura mortal com que me calo
te abraça, embora eu tenha
imóveis os meus braços.
Miro meu corpo, o músculo
em que repousa o teu cansaço,
teu branco seio macio e apertado
e o leve e macio respirar do teu ventre!
sem meus lábios.
Te digo à meia voz
coisas que invento a cada instante
e fico deveras triste e só
e te beijo como se fosse o seu retrato.
Tu, sem falar, me olhas
e te abraças a mim até chorar
Sem lágrimas, sem olhos, sem espanto.
E eu volto a fumar, enquanto as coisas
se põem a escutar o que falamos.

Jaimes Sabines



sábado, 28 de maio de 2022

................. Sem ....

 

SEM IMPORTUNAR, POR FAVOR


Tentei,
Sem sucesso,
Controlar minha vida.
Acabei assim
Vivendo um terço,
Uma metade,
Quem sabe...

Sei
Que do meu destino
Não sei eu.
Talvez meu corpo,
Que esconde surpresas
Nem sempre agradáveis,
Ou outro, inesperado,
Que me assalta,
Em qualquer parte,
E se torna senhor
Da minha vida.

Infelizmente
Sou tão frágil
Que um simples dedo
Ou uma lâmina qualquer
Me torna uma vaga lembrança.

Muito mais cruel,
Porém é quem,
Igual a ela,
Com beijos e carinhos desmedidos
Me deixou vivo
E sem sentido.

Por favor,
Quem quiser doravante
Seja rápido:
Mate-me sem carinhos, beijos,
Perguntas ou desculpas.

.................... Se...

 



Se fui menino não me lembro,
Mas também não compreendo
Como me encontro velho assim....

Sou um Narciso sem imagem:
Olho para um espelho
No qual não se reflete
Nada de mim.

E o problema persiste
Fora do espelho.
Se não vejo os olhos vermelhos,
Se não vejo os cabelos brancos,
Vejo que tudo continua estranho
E não consigo dominar o pranto.

Como observador
De alguém que eu não sou
Percebo, inutilmente,
O tempo que passou
E que de nada adianta
Os dias que virão
Pela frente....

............. Somos....

 

Canção do Sentir


Somos as vibrações, 

fortes ou fracas, 

a energia em movimento, 

da música chamada vida,

que, indiferente, nos dá e toma

os dias, as noites, o frio, o quente, 

o desprezível, o encantador. A maravilha 

de sermos imensos 

na nossa pequenez

de pó de estrelas. 

E ter, pelo menos, na trajetória 

indeterminada

a sensação de superar o nada

e ter sentido o prazer 

de matéria consciente ser.

Usufruir a indizível, inefável e doce 

 emoção  

de ter a ilusão 

de sentir a beleza e o mistério de viver. 

Ilustração: Vida Simples. 

quarta-feira, 25 de maio de 2022

Poema de Nuno Júdice

 

Oração

25
MAI22

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Ilustração Alicia Varela
 
 
Se eu rezasse, pediria compaixão
para os que não amam, para os que não sabem
para onde olhar quando estão sós e lhes falta
um rosto amado na memória, para os que
olham para uma flor e só pensam no dia em que
irá morrer. Talvez o amor não seja a única
salvação dos que precisam de tudo, nem
a cura para os males de quem não sabe
o que é o sonho. Porém, sem ele, as suas mãos
serão ainda mais vazias, e as suas noites
não terão o horizonte de uma luz ao
amanhecer. Penso em todos eles, por
quem rezaria, se eu rezasse, e é o teu rosto
que eu vejo à minha frente, são as tuas mãos
que procuram as minhas, e é a tua existência,
só pelo facto de existires, que acende
na minha noite cada futura manhã. E rezo,
afinal, no fim de tudo, rezo para que a tua voz
não me falte, o teu corpo se vista com o perfume
do campo e por ti corra, sempre, o rio deste amor.
 
 
Poema de Nuno Júdice 

terça-feira, 24 de maio de 2022

Fernando Campos de Castro

 O PATAMAR DA VIDA

Sobe as escadas da vida lentamente
Sempre que a vida te peça para avançar
Mas repara que a teu lado há sempre gente
Que quer atingir o mesmo patamar
Sobe cada degrau sim, mas a compasso
E deixa entrar o ar nos teus pulmões
Que a vida só se faz em passo-a-passo
E tudo o resto não passam de ilusões
Se quiseres desistir não faças isso
Que a vida é mesmo assim por condição
Que o patamar da vida é sempre omisso
E nunca ninguém atinge a perfeição.

Fernando Campos de Castro




Canción del amor prohibido

 Canção do amor proibido


Só tu e eu sabemos o que  ignora a gente
Ao trocar  um cumprimento cerimonioso e frio,
Porque ninguém suspeita de ser falso teu desvio,
Nem quanto amor esconde meu gesto indiferente.

Só tu e eu sabemos por que minha boca mente,
Contando a história de um namoro transitório;
E tu apenas me escutas e eu não te sorrio
E ainda nos arde nos  lábios algum beijo recente.

Só tu e eu sabemos que há uma semente
Germinando na sombra deste sulco vazio,
Porque sua flor profunda não se vê, nem se sente.

São assim o teu coração e o meu, assim  sente,
Pois, ainda que os separe a corrente de um rio,
Por debaixo dele se unem secretamente.


Canción del amor prohibido

José Ángel Buesa







segunda-feira, 23 de maio de 2022

Paula Ventura

 Tudo, não passa de momentos!!

A Vida é um momento
Fazemos o momento
Sentimos o momento
Somos um momento!!
Então.....desfruta cabalmente
do teu momento.
Até mesmo O Hoje,
não passará de um momento.
Vive-O em Paz. Sê Feliz.
Paula Ventura



............ Poesia

 NA PENUMBRA


A hora confidencial! ... Entre banais
palavras, toda inteira, te respiro
como um perfume, e em teus olhos miro
desnudar-se teu espírito ..Em fatais

silêncios ... Se escurecem os cristais;
e a luz desaparece em um suspiro,
tremendo na pálida safira
que azula entre tuas mãos imperiais.

As escuridões palpitam ... Andam com medo
descalças pelos sedas do tapete,
enquanto, pressentindo teus feitiços,

naufraga a brancura dos meus dedos
na sombra profunda e ondulante
do mar tempestuoso de teus risos.

Ilustração: Francisco Villaespesa.




Paula Raposo

 POEMA

Paula Raposo
Sem título
A ternura com que lês as entrelinhas das minhas reflexões
deixa-me um sorriso de afecto e de esperança,
donde solto a saudade da distância.
São os espaços em branco que dão colorido à minha vida,
é o mar, são as flores,
é a voz, são os momentos.
Na luz das minhas palavras reflecte-se o teu olhar.
Paula Raposo