Uma poesia de Valery Larbaud
LE DON DE SOI-MÊME
Valery Larbaud
O DOM DE SI MESMO
Me ofereço a cada um como sua recompensa;
Me dou a cada um mesmo antes que haja merecido.
Há algo em mim
No fundo de mim, no centro de mim
Qualquer coisa infinitamente árida
Como o topo das montanhas mais abruptas;
Qualquer coisa comparável ao ponto morto da retina,
E sem eco,
E que, portanto, vê e ouve;
Um ser com vida própria e que, no entanto,
Vive toda a minha vida, e ouve, impassível,
Todas as conversas da minha consciência.
Um ser feito do nada, se fosse possível,
Insensível aos meus sofrimentos físicos,
Que não chora quando choro?
Que não ri quando rio,
Quem não se envergonha quando cometo uma ação vergonhosa,
E que não geme quando meu coração está machucado;
Que se mantém imóvel e não me dá conselhos,
Mas sempre diz eternamente:
"Estou aqui, indiferente a tudo".
Pode ser vazio como é o vazio,
Mas tão grande que o bem e o mal juntos
Não o preenche.
E o ódio morre lá de asfixia,
E o maior amor não penetra nunca.
Toma, portanto, tudo de mim: o significado dos meus poemas,
Não é o que se lê, mas o que se fala apesar de mim:
Toma, Toma, não tens nada.
E onde quer que eu vá, no universo inteiro,
Encontro sempre
Fora de mim, como em mim,
O irrealizável vazio,
O inconquistável Nada.
Ilustração: https://blogdosemeador.com/.
1 comentário:
E no vazio planam as almas cheias que buscam um EU rico de Nada !!!... <3
Bj Conde
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