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segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Uma poesia de Valery Larbaud






            

Um poeminha de Juan Bonilla mais atual do que nunca

                                                                  


VISOR 



Uma poesia de Valery Larbaud


LE DON DE SOI-MÊME

Valery Larbaud


 

O DOM DE SI MESMO 

 

Me ofereço a cada um como sua recompensa;

Me dou a cada um mesmo antes que haja merecido.

 

Há algo em mim

No fundo de mim, no centro de mim

Qualquer coisa infinitamente árida

Como o topo das montanhas mais abruptas;

Qualquer coisa comparável ao ponto morto da retina,

 

E sem eco,

E que, portanto, vê e ouve;

Um ser com vida própria e que, no entanto,

Vive toda a minha vida, e ouve, impassível,

Todas as conversas da minha consciência.

 

Um ser feito do nada, se fosse possível,

Insensível aos meus sofrimentos físicos,

Que não chora quando choro?

Que não ri quando rio,

Quem não se envergonha quando cometo uma ação vergonhosa,

E que não geme quando meu coração está machucado;

Que se mantém imóvel e não me dá conselhos,

Mas sempre diz eternamente:

"Estou aqui, indiferente a tudo".

 

Pode ser vazio como é o vazio,

Mas tão grande que o bem e o mal juntos

Não o preenche.

E o ódio morre lá de asfixia,

E o maior amor não penetra nunca.

 

Toma, portanto, tudo de mim: o significado dos meus poemas,

Não é o que se lê, mas o que se fala apesar de mim:

Toma, Toma, não tens nada.

E onde quer que eu vá, no universo inteiro,

Encontro sempre

Fora de mim, como em mim,

O irrealizável vazio,

O inconquistável Nada.

Ilustração: https://blogdosemeador.com/.

1 comentário:

mariferrot disse...

E no vazio planam as almas cheias que buscam um EU rico de Nada !!!... <3

Bj Conde