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segunda-feira, 17 de agosto de 2020

David Mourão-Ferreira






       

Paraíso



Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.
Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!

Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...
Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.

David Mourão-Ferreira
Imagem retirada do Google

1 comentário:

mariferrot disse...

Um Senhor da cultura,um Professor Catedrático que deu o nome a uma grande estante de conhecimentos (Biblioteca), que é dono de uma Obra Poética, muito cuidada, onde o lirismo se manifesta culto, subtil, depurado e sempre a roçar o sublime!!!... <3

BJ CONDE