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terça-feira, 22 de outubro de 2019

Nuno Júdice






voa(r)
Este pássaro que nasceu não sei de onde, 
que atravessa com o seu voo a imprecisão 
da minha noite, que rasga com a lâmina 
das suas asas a mortalha da insónia, 
foi apanhado por um caçador de furtivos 
silêncios. Agora, debate-se na gaiola 
do esquecimento; recusa o poleiro para 
que o cansaço o empurra; despeja 
o bebedouro do tédio que lhe trazem 
com a alpista das palavras. Já não canta; 
e os seus olhos reflectem um horizonte 
cego, como se tivesse perdido o rumo 
das migrações. Mas não morre; e 
ouço-o debater-se dentro de mim, quando
lhe aceno com o azul, e uma esperança 
de céu o obriga a sonhar.




Nuno Júdice

1 comentário:

mariferrot disse...

De prosa maravilhosa e encantadora leitura Nuno Júdice deixa evidente que os nossos estados de alma nas mais diversas mutações desejam liberdade e sonham voar em perfeita analogia com a beleza dos pássaros !!!... <3

BJ Conde