Dizem , meu amor , que neste inverno os ventos
passarão a mão pela seara e levarão o trigo ;
que os dias serão escuros e frios - e tão curtos
que neles não caberá paixão alguma , por pequena
que seja . Contam que punhais de chuva se abaterão sobre
sobre os pomares ; e que as àrvores crescerão
como feixes de serpentes , procurando ganhar
desesperadamente o céu . E acrescentam que
os pássaros advinham tudo isto e que por isso
se calam de manhã - ouço - os bater as asas
num aceno triste ; partem para o sul , dizem ,
se dizem a verdade .
Só a casa ficará de pé a olhar a planície . E
dentro dela os sonhos e as recordações do verão -
- retratos dos lugares que nunca visitamos , uma camisa
de linho no espaldar da cadeira , um livro para sempre
interrompido sobre a cama . Ouvìamos uma canção triste
na grafonola velha . Dançarìamos o ano inteiro , disseram
uma noite ao ver -nos atravessar a sombra da lua.
Ignoravam então o inverno.
Maria do Rosário Pedreira
1 comentário:
Uma doce melodia que vai do verão ao inverno com aves friorentas a ouvir e folhas macilentas a desnudarem os galhos que o tempo vai desbotando !!!... <3
BJ Conde
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