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quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Maria do Rosário Pedreira





Guardava alguns silêncios e tambem as coisas
que não dissera por acaso. Guardava agora tambem
esses acasos , brancos  recados entre as palavras
que lhes sobravam nas gavetas . E ainda assim guardaria
para sempre essas palavras , ou a imagem de lábios a
dizê-las - um rosto ainda sem ser triste lembrando o verão.


Teria guardado esse verão , o cheiro quente dos morangos
à beira dos dedos . E tê - lo ia sobretudo guardado ,
como guardava agora . sem nunca o ter ouvido , o som
das espigas , na planície do vento.


Mas agora só podia guardar a passagem do tempo
sem palavras ; ou um vento de feição , um
acaso que tudo justificasse . E no silêncio em que se ia guardando
buscava apenas um lugar mais sereno para as memórias.


Maria do Rosário Pedreira



1 comentário:

mariferrot disse...

Silêncio é uma orla dourada, um remate que pouco se vê,é pintor que pinta na alma tudo aquilo em que se crê !!!...

Bj Conde <3