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quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Ary dos Santos, in 'Liturgia do Sangue'

Desespero! 




Não eram meus os olhos que te olharam ...
Nem este corpo exausto que despi 
Nem os lábios sedentos que poisaram 
No mais secreto do que existe em ti.


Não eram meus os dedos que tocaram 
Tua falsa beleza, em que não vi 
Mais que os vícios que um dia me geraram 
E me perseguem desde que nasci.


Não fui eu que te quis. E não sou eu 
Que hoje te aspiro e embalo e gemo e canto, 
Possesso desta raiva que me deu


A grande solidão que de ti espero. 
A voz com que te chamo é o desencanto 
E o esperma que te dou, o desespero.   




Ary dos Santos, in 'Liturgia do Sangue'    


Foto de Antonio Maria.

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