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domingo, 28 de setembro de 2014

Palavras...
Para que tu me ouças,
as minhas palavras
estreitam-se às vezes
como pegadas de gaivotas na praia.
Colar, guizo ébrio
para as tuas mãos suaves como as uvas.
E vejo-as ao longe, as minhas palavras.
São mais tuas do que minhas.
Como heras vão trepando pela minha velha dor.
Elas trepam assim pelas húmidas paredes.
És tu a culpada deste jogo sangrento.
Começam a fugir do meu escuro refúgio.
Tu enches tudo, enches tudo.
Antes de ti povoaram elas a solidão que ocupas
e estão mais habituadas do que tu à minha tristeza.
Agora quero que digam o que te quero dizer
para que me ouças como quero que me ouças.
O vento da angústia ainda as arrasta, por vezes
Furacões de sonhos ainda as derrubam.
Tu escutas outras vozes na minha voz dorida.
Pranto de velhas bocas, sangue de velhas súplicas.
Ama-me, companheira. Não me abandones. Segue-me.
Segue-me, companheira, nessa onda de angústia.
Mas vão-se tingindo com o teu amor as minhas palavras.
Tu ocupas tudo, ocupas tudo.
Vou fazendo de todas elas um colar infinito
para as tuas mãos brancas, suaves como as uvas.

Pablo Neruda

Homens Gatos

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