ÁRVORE
A floresta é longínqua e imensa.
Aqui estou, na curva do outeiro
Molhada pelo último aguaceiro.
Minhas flores desabrocham ao sol
Sem pedir licença.
Olhas para elas, atrevido aventureiro
E com ternura breve e tensa
Delas te fazes, num ápice, companheiro.
Erva gelada, sangrenta e encarnada
Atapeta os campos que conheço.
Árvore viçosa, esquecida aqui me fico.
Prisioneira viajo e permaneço
Neste renascer breve perto do ribeiro.
É brilhante a tua pele, tuas sementes
Fecundas, meus frutos limitados.
Vejo na manhã fugaz de nevoeiro
Os teus leves contornos fugidios,
Vives espraiado nos grandes rios
Comes as maçãs roubadas do meu corpo.
Sou a árvore liberta e produtiva,
Ofereço-te a seiva e a vida
E morro à tua vinda, devagarinho
Sempre, ainda, tronco rugoso,
Ramos frágeis em desalinho.
Afastada da estrada ondulante da montanha
E do teu flutuante caminho.
Laura Santos
Nota: adoro tangos
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