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sexta-feira, 26 de maio de 2023

Pablo Neruda

 

Perdemos ainda este crepúsculo.
Ninguém nos viu esta tarde de mãos dadas 
enquanto a noite azul caía sobre o mundo.

Da minha janela vi ao longe 
a festa do poente nas colinas.

Às vezes como uma moeda 
acendia-se um pedaço de sol nas minhas mãos.

Eu recordava-te com a alma consumida
por aquela tristeza que bem conheces.

Onde estavas então?
Entre que gente?

Dizendo que palavras?
Porque vem ter comigo de repente o amor todo
quando me sinto triste, e te sinto distante?

Caiu o livro em que sempre se pega ao crepúsculo
e aos pés caiu-me a capa como um cão ferido.

Afastas-te sempre, sempre, de tarde 
para onde o crepúsculo corre, apagando estátuas.


Pablo Neruda









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