Oh que todo o amor propague em mim a sua boca,
que não sofra um instante mais sem primavera,
à dor eu só vendi as minhas mãos,
agora, bem-amada, deixa-me com teus beijos.
Cobre com teu perfume a luz do mês aberto,
fecha as portas com tua cabeleira,
e em relação a mim não te esqueças que se acordo e choro
é porque em sonhos sou apenas um criança perdida
que entre as folhas da noite procura as tuas mãos,
o contacto do trigo que tu me comunicas,
um arroubo cintilante de sombra e de energia.
Oh, bem-amada, e nada mais que sombra
por onde me acompanhes em teus sonhos
e me digas a hora da luz.
Pablo Neruda
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