Seguidores

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Miguel Torga

 Miguel Torga //// Poema melancólico a não sei que mulher

Poema melancólico a não sei que mulher
Dei-te os dias, as horas e os minutos
Destes anos de vida que passaram;
Nos meus versos ficaram
Imagens que são máscaras anónimas
Do teu rosto proibido;
A fome insatisfeita que senti
Era de ti,
Fome do instinto que não foi ouvido.
Agora retrocedo, leio os versos,
Conto as desilusões no rol do coração,
Recordo o pesadelo dos desejos,
Olho o deserto humano desolado,
E pergunto porquê, por que razão
Nas dunas do teu peito o vento passa
Sem tropeçar na graça
Do mais leve sinal da minha mão...
Miguel Torga
Portugal (Vila Real) 1907-1995
in Diário VII
Editor: Coimbra Editora



1 comentário:

mariferrot disse...

Mulher, berço de lágrimas, tabernáculo do amor, terreno suado de dor, de passos errantes sempre caminhantes !!!...


Beijo Conde