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terça-feira, 5 de abril de 2022

José Carlos Ary dos Santos

 DESESPERO

Não eram meus os olhos que te olharam
Nem este corpo exausto que despi
Nem os lábios sedentos que poisaram
No mais secreto do que existe em ti.
Não eram meus dedos que tocaram
Tua falsa beleza, em que não vi
Mais que os vícios que um dia me geraram
E me perseguem desde que nasci.
Não fui eu que te quis. E não sou eu
Que hoje te aspiro e embalo e gemo e canto,
possesso desta raiva que me deu
A grande solidão que de ti espero.
A voz com que te chamo é o desencanto
E o esperma que te dou, o desespero.
in "Liturgia do Sangue"
José Carlos Ary dos Santos
" E as coisas que não disse? Que não digo:
Meu terraço de ausência meu castigo
Meu pântano de rosas afogadas"



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