Fado Português
José Régio
O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.
Ai, que lindeza tamanha,
meu chão, meu monte, meu vale,
de folhas, flores, frutas de oiro,
vê se vês terras de Espanha,
areias de Portugal,
olhar ceguinho de choro.
Na boca dum marinheiro
do frágil barco veleiro,
morrendo a canção magoada,
diz o pungir dos desejos
do lábio a queimar de beijos
que beija o ar, e mais nada,
que beija o ar, e mais nada.
Mãe, adeus. Adeus, Maria.
Guarda bem no teu sentido
que aqui te faço uma jura:
que ou te levo à sacristia,
ou foi Deus que foi servido
dar-me no mar sepultura.
Ora eis que embora outro dia,
quando o vento nem bulia
e o céu o mar prolongava,
à proa de outro veleiro
velava outro marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.
José Régio
1 comentário:
Falar de José Régio (pseudónimo) é mundo literário é dizer por exemplo que a sua tese de licenciatura com o tema " As correntes e as individualidade na moderna Poesia Portuguesa " foi pouco apreciada especialmente pelo destaque e valor que deu aos Poetas, Mário de Sá Carneiro e Fernando Pessoa !!!... <3
falar de Fado é mundo universal, é música com alma portuguesa,é poesia coberta por um xaile, gemida por duas guitarras (clássica e portuguesa)cantada ou falada por uma voz e com muito sentimento... fado é destino, é dor e lamento !!!... <3
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