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sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Rui Pires Cabral






Snapshot from Anton Corbijn's "Control"






























Vendo bem, as vozes mais ingratas
foram as que acordaram em nós um violento 
amor à vida: por essa beleza indócil 
sofreríamos tudo, até ao fim. Mas, depois 
da música, era como se uma estrela 

morresse de repente: tínhamos 18 anos 
e andávamos sempre de luto. Os velhos muros 
das quintas, recreios da nossa infância, 
estrangulavam ruas tortas no entardecer inerte 
dum feriado nacional. Descíamos a ribanceira 

por detrás do cemitério - estávamos já muito sós
e ainda queríamos tudo: um beijo e um charro 
molhado de lágrimas para render mais. Porém, 
a vida tardava (como tardaria sempre), era um lento 
desengano com pequenos interstícios musicais. 



Rui Pires Cabral

1 comentário:

mariferrot disse...

Vozes que nos apoquentam são ecos que vivem no fundo, são sonhos que naufragaram e amores que não sonharam !!!... Bj Conde <3