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domingo, 18 de agosto de 2019

Eugénio de Andrade





POESIA
Como se houvesse uma tempestade
escurecendo os teus cabelos,
ou se preferes, a minha boca nos teus olhos,
carregada de flor e dos teus dedos;
Como se houvesse uma criança cega
aos tropeções dentro de ti,
eu falei em neve, e tu calavas
a voz onde contigo me perdi.
Como se a noite viesse e te levasse,
eu era só fome o que sentia;
digo-te adeus, como se não voltasse
ao país onde o teu corpo principia.
Como se houvesse nuvens sobre nuvens,
e sobre as nuvens mar perfeito,
ou se preferes, a tua boca clara
singrando largamente no meu peito.


Eugénio Andrade

1 comentário:

mariferrot disse...

Como se houvesse é um faz de conta que não existe, é um ter que não se tem, é um ser que não se vê mas se houvesse era o que é !!!...
Bj Conde <3