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segunda-feira, 28 de maio de 2018

rui amaral mendes in a noite o sangue [2016] ©






mar adentro...
sento-me junto à janela 
que conheci tua 
o olhar repousando sobre 
as águas do rio que corre

em baixo na estrada vejo os últimos 
carros que passam na noite 
mas é o voo das gaivotas 
que me leva o pensamento

em mim permanece ainda o quente eflúvio 
das descobertas que sempre fazemos; 
digo: são doces os resquícios do interminável 
desejo com que reinventamos essa 
cartografia da paixão e dos afectos

pouco sei das ciências dos elementos 
ou do simbolismo histórico das aves: 
são outros os saberes onde me atenho. 
mas desta tua janela 
vendo o reflexo das margens na águas

penso nas pontes que nos aproximaram 
recordo a nascente de um improvável curso de água 
os relevos já rasgados 
e penso nesse mar aqui tão perto 
revelado pelas aves que livremente voam junto à costa

não renego as margens de nos deram forma 
muito menos os vales já sulcados. 
na invocação da proximidade do mar 
antevejo o sal de horizontes a perder de vista 
e penso no sabor que deixaste em minha boca

olhar abandonado em longos cabelos 
navegando à vista 
da candura cor de terra 
de um olhar que me pacifica

rumamos barra fora e largamos velas ao vento


rui amaral mendes in a noite o sangue [2016] ©   

Foto de Antonio Maria.

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