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quarta-feira, 13 de setembro de 2017






























Perante os que olham a realidade como se fosse
o único absoluto, sinto-me como se estivesse perante
aqueles marinheiros loucos que, ao verem
aproximar-se o temporal, se lançam à água,
deixando para trás os mapas e a bússola. Na verdade,
entendo essa mesma realidade, que os outros
veneram, como algo tão impuro como o chão que 
pisamos, com a diferença de que os pés não sabem
distinguir o caminho certo se o rumo de quem anda
não os dirigir de acordo com uma ideia, um destino, o
que quer que seja que possa eliminar o acaso. E
é aqui que os crentes no real me contradizem: "Não vês
que o ideal se esfuma por entre dedos, e que
tudo o que pensas que faz parte da tua vida não passa
de sonho que logo se dissipa quando acordas 
da noite"? Porém, digo-lhes, se à noite fico 
acordado é precisamente porque o escuro, a sombra, 
a própria treva, me confirmam na convicção de 
que esta realidade em que vivemos não passa de aparência,
de simples ilusão nascida do nosso desejo de viver
num quotidiano fabricado pelo pensamento. E 
neste preciso momento verifico que estou perante
seres abstractos, fantasmas de um arquétipo inútil, 
astros que se apagam no céu da consciência que,
para mim, não tem mais realidade do que este papel
em que escrevo, e só é real quando o leio.



Nuno Júdice

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