Seguidores

quarta-feira, 27 de setembro de 2017























Ele disse que 
quando 
lhe tocava nas zonas quentes a luz do vento abria as searas profundas 
encapelava o ouro, os corredores do ar 
através das palavras - perguntou: 
porquê? O sangue bate mão na mão, perguntou se aquilo era tocar em tudo, 

disse: toco num objecto ele brilha 
objectos que se crispam perguntou se os objectos eram espasmos 
do espaço. Disse, os corpos são varas de ouro plantadas. 
A seiva rutila nelas. Tocava, abalava organismos, elementos 
límpidos, varas vivas. 
O ar sem fundo erguia-se de dentro dos sítios. Disse: 
o génio ininterrupto de multiplicares 
o teu espaço luminoso - e 
cada vara brilha de si mesma e da outra vara próxima. 
Em que recessos te queimo, virgens, em que 
inexplicáveis redes de imagens 
buracos 
de vento nas searas eriçadas varas com força? 
Tu de onde o ar se levanta 
se te afastas do teu nome até seres inominável quando toco 
o teu nome se 
te aproximas com o nome que tu és, essa abundância. 
Ele disse: o remoinho da estrela na sua clareira. 
Porque se fundem com os dedos as matérias selvagens, ah 
como refulge o bocado de carne, que chegue 
devagar à boca, refulja 
ela também aquela que devora. 
Células terríveis, como vibram, células das coisas que trazes 
à sua pulsação. O mover 
dos dedos move o mundo, disse que era o nexo oculto na arte 
de cada coisa. 
A leveza da mão desequilibra a chama, a atmosfera dá-lhe 
tanta potência. Se te 
toco, disse. Se 
te devasto no recôndito empunhando as unhas contra a cabeça 
coroada quando te deslocas a fôlego 
e peso, as translações radiais de ti a mim. Toda 
a electricidade 
corre pelas fibras dos substantivos, acende-os, trança-os, transforma-os 
numa 
constelação vergada. Tu 
transformas-te - alargas os braços apanhando a claridade onde 
os longos arcos 
reflexos: 
o garfo na boca, a labareda cortada na testa, os laços de carne sob o vestido 

com uma cor olhada instantânea. 
Disse que a mão compõe a sintaxe de botões luzindo que 
quando lhes tocava
o nome do mundo crescia tanto -



Herberto Helder

Sem comentários: