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domingo, 22 de novembro de 2015

Manuel Bandeira ///// Madrigal melancólico


MADRIGAL MELANCÓLICO


O que eu adoro em ti
 Não é a tua beleza
 A beleza é em nós que existe
 A beleza é um conceito
 E a beleza é triste
 Não é triste em si
 Mas pelo que há nela
 De fragilidade e incerteza
O que eu adoro em ti
 Não é a tua inteligência
 Não é o teu espírito sutil
 Tão ágil e tão luminoso
 Ave solta no céu matinal da montanha
 Nem é a tua ciência
 Do coração dos homens e das coisas.
O que eu adoro em ti
 Não é a tua graça musical
 Sucessiva e renovada a cada momento
 Graça aérea como teu próprio momento
 Graça que perturba e que satisfaz
O que eu adoro em ti
 Não é a mãe que já perdi
 E nem meu pai
O que eu adoro em tua natureza
 Não é o profundo instinto matinal
 Em teu flanco aberto como uma ferida
 Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que adoro em ti lastima-me e consola-me:
 O que eu adoro em ti é a vida!

Manuel Bandeira