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domingo, 20 de julho de 2014

Maria do Rosário Pedreira


Depois.....


Amei-te como como na vida se ama uma só vez;
e todos os afectos que dividi depois eram
apenas cinzas que evocavam o brilho dessa
imensa chama. Troquei suspiros e beijos

com muitas outras bocas quando, na minha,
o travo da solidão era uma amarga desculpa
para repartir o pouco que não tinha; mas

em nenhuma quis morder fruto mais
suculento que o silêncio nem permiti que
pousasse sequer o meu nome verdadeiro -
que só nos teus lábios era graça e canção

e eco de loucura. Foi o meu corpo tão vão
naqueles que o cingiram que me faria velho
a tentar recordar-lhe os gestos hesitantes,
as convulsões da pressa e os veios de sal
descreviam no litoral da pele o aviso de uma
paisagem interior abandonada. Mas de nada

me serviu amar-te assim - pois, ao dizer-te o
que não pude ser longe de ti, digo-te o que sou
e isso há-de guardar-te para sempre de voltares.



Maria do Rosário Pedreira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

1 comentário:

Glória disse...

Nossa, que lindo, lindo, linndo!
E quando a gente pensa que tudo acabou, han, o coração ainda bate forte e acelarado!
Boa noite, D. Juan!!