A noite vem poisando devagar
Sobre a Terra,que inunda de amargura...
E nem sequer a bênção do luar
A quis tornar divinamente pura...
Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor que é cheia de tortura...
E eu oiço a Noite imensa soluçar!
E eu oiço soluçar a Noite escura!
Por que és assim tão'scura,assim
tão triste?!
É que,talvez,o Noite,em ti existe
Uma saudade igual à que eu contenho!
Saudade que eu sei donde me vem...
Talvez de ti, ó Noite!...
Ou de ninguém!...
Que eu nunca sei quem sou,
nem o que tenho!!
in LIVRO DE MÁGOAS (1919),
in SONETOS (Ediclube, 1995)
FLORBELA ESPANCA
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