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sexta-feira, 17 de maio de 2013

De : Joaquim Pessoa


 



Há pequenas aves que têm raízes nas palavras,
essas palavras que não ficaram arrumadas com decência
na literatura,
palavras de amantes sem amor, gente que sofre
e a quem falta o ar quando faltam as palavras.
Quando digo o teu nome há uma ave que levanta vôo
como se tivesse nascido o dia e uma brisa encarcerada
nas amêndoas
se soltasse para a impelir para o mais frio, para o mais alto,
para o mais azul.
Quando volto para casa o teu nome vai comigo
e ao mesmo tempo espera-me já numa casa construída
com dois nomes
como se tivesse duas frentes, uma para a montanha, outra
para o mar.
Por vezes dou-te o meu nome e fico com o teu,
espreito então por janelas de onde se vêem coisas que
nunca antes tinha visto,
coisas que adivinhava mas que não sabia,
coisas que sempre soube mas que nunca quis olhar.
Nessas alturas o meu nome é o teu olhar, e os meus olhos
são justamente a pronúncia do teu nome que se diz
com um pequeno brilho molhado, um som pequeno
como um roçagar de asas
dessas aves que constroem o ninho na folhagem da fala
e criam raízes fundas nas palavras vulgares
que os vulgares amantes engrandecem
quando falam de amor.

 




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