Há pequenas aves que têm raízes nas palavras,
essas palavras que não ficaram arrumadas com decência
                                                                                     na literatura,
palavras de amantes sem amor, gente que sofre
e a quem falta o ar quando faltam as palavras.
Quando digo o teu nome há uma ave que levanta vôo
como se tivesse nascido o dia e uma brisa encarcerada 
                                                                                  nas amêndoas
se soltasse para a impelir para o mais frio, para o mais alto,
                                                                              para o mais azul.
Quando volto para casa o teu nome vai comigo
e ao mesmo tempo espera-me já numa casa construída
                                                                               com dois nomes
como se tivesse duas frentes, uma para a montanha, outra
                                                                                        para o mar.
Por vezes dou-te o meu nome e fico com o teu,
espreito então por janelas de onde se vêem coisas que
                                                                  nunca antes tinha visto,
coisas que adivinhava mas que não sabia,
coisas que sempre soube mas que nunca quis olhar.
Nessas alturas o meu nome é o teu olhar, e os meus olhos
são justamente a pronúncia do teu nome que se diz
com um pequeno brilho molhado, um som pequeno
                                                              como um roçagar de asas
dessas aves que constroem o ninho na folhagem da fala
e criam raízes fundas nas palavras vulgares
que os vulgares amantes engrandecem
quando falam de amor.
 
