Às vezes, quando a noite vem caindo,
Tranquilamente, sossegadamente,
Encosto-me à janela e vou seguindo
A curva melancólica do Poente.
Não quero a luz acesa. Na penumbra,
Pensa-se mais e pensa-se melhor.
A luz magoa os olhos e deslumbra,
E eu quero ver em mim, ó meu amor!
Para fazer exame de consciência
Quero silêncio, paz, recolhimento
Pois só assim, durante a tua ausência,
Consigo libertar o pensamento.
Procuro então aniquilar em mim,
A nefasta influência que domina
Os meus nervos cansados; mas por fim,
Reconheço que amar-te é minha sina.
Longe de ti atrevo-me a pensar
Nesse estranho rigor que me acorrenta:
E tenho a sensação do alto mar,
Numa noite selvagem de tormenta.
Tens no olhar magias de profeta
Que sabe ler no céu, no mar, nas brasas...
Adivinhas... Serei a borboleta
Que vendo a luz deixa queimar as asas.
No entanto — vê lá tu!— Eu não lamento
Esta vontade que se impõe à minha...
Nem me revolto... cedo ao encantamento...
— Escrava que não soube ser Rainha!
Fernanda de Castro
3 comentários:
OH,CONDE QUÃO BELO ENTRE OS BELOS POEMAS ESCOLHESTES...AGRADECIDA POR COMPARTILHAR UM BJO DO MAR DE CÁ BJS!
HUM!!!!
As vezes a mulher não consegue ser Rainha, mas nem por isso quer ser escrava
Quer ser apenas, MULHER
Beijinhos, bom final de semana
Acho que vc leu minha mente rs
Hoje estou num dia de profunda meditação...rss
Lindo fim de semana, beijos.
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