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segunda-feira, 30 de março de 2020

Poema em tempo de Coronavírus





      

Poema em tempo de Coronavírus


A brutalidade da vida é uma coisa normal.
Como sou delicado
tento fazer poesia 
mesmo quando uma pandemia
me isola das coisas e pessoas que amo. 
Sou naturalmente indefeso
contra qualquer tipo de vírus.
Pego gripe 
com a facilidade que os grandes goleiros 
pegam pênaltis. 
E não gosto muito de longas conversas 
por celular 
nem de interações digitais demais. 
Meus receios são tão maiores ainda
porque sei que tudo é frágil 
ao menor contacto.
E me entrego aos únicos prazeres 
que me parecem possíveis:
dormir a qualquer hora e sem limites
(que a preguiça sempre foi uma das minhas qualidades),
ler sem a menor regra,
ouvir todo e qualquer tipo de música, 
comer sardinha, até mesmo de lata, 
mastigar castanha do Pará, 
e me embriagar 
com algumas taças de vinho 
porquê, de qualquer forma,
não posso viver sem sonhar!

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